Correio da Bahia

Flávio admite surpresa com recepção da torcida

- COLABOROU BRUNO QUEIROZ BRUNO QUEIROZ

Antes de vestir azul, vermelho e branco, Brumado defendeu a base do Cruzeiro. Na Toca da Raposa, começou como meio-campista.

“Eu era mais paradão, aí teve um treinador chamado Alexandre Lemos que começou a me rodar. Joguei de zagueiro, atacante de beirada... Só não joguei de lateral e goleiro. Até que me viu de centroavan­te e foi um gol atrás do outro”, conta o jogador, que não cogita mudar de posição nem mesmo a pedido de Guto Ferreira.

Brumado ficou no clube mineiro dos 13 aos 16 anos, até ser dispensado por indiscipli­na. “Minha cabeça não estava preparada. Eu fiquei nove meses sem ver minha mãe e meu pai. Não tinha celular direito naquela época. Eu tinha um, mas era difícil falar. Comecei a não querer treinar, faltava treino, eu não gostava de ir pra escola, não gosto até hoje. Aí os caras não quiseram mais ficar comigo pela indiscipli­na e me dispensara­m. Concordo com os caras”.

Voltou para o interior da Bahia já com barba na cara e encontrou uma realidade bem diferente da que desejava para a própria família. “Voltei pra casa e vi realmente o que meu pai e minha mãe passavam, as dificuldad­es. Aí eu pensei ‘posso mudar isso’. Foi aí que eu acordei e meu empresário entrou em contato com o Bahia”.

O jovem forte de 1,90 m passou por um drama na infância, quando precisou ser submetido a uma cirurgia no pé esquerdo. “Quando eu fiz 3 anos, começou a nascer um dedo embaixo do meu dedo mindinho. Tinha osso, tudo. Meu pé estava doendo muito”, relata o jogador, que é destro. “Precisava operar e aí começou a dificuldad­e, porque a gente não passava dificuldad­e, mas também não tinha de tudo, e sim o básico pra gente viver”, conta Brumado.

Cabeleirei­ra, dona Alcilene não mediu esforços para viabilizar a cirurgia do filho. “Minha mãe vendeu a bicicleta e a televisão lá de casa e conseguiu o dinheiro para a passagem minha e dela para Salvador. Só de ida”, detalha, orgulhoso. “Antes da gente viajar, perguntara­m para minha mãe por que ela iria tirar esse dedo meu e ela disse: ‘Vou tirar porque meu filho vai ser um jogador’. Ela sabia que eu era viciado em bola. Chega me arrepio quando falo da minha mãe”.

A permanênci­a em Salvador durou mais de um mês e o retorno a Brumado só aconteceu depois da mãe dele fazer muita unha e penteado. “Para juntar o dinheiro pra gente voltar. Dinheiro de imediato ninguém tinha. Meu pai, na época, trabalhava de encanador e era difícil. Ficamos na casa de parentes e eu ainda tive uma inflamação. Meu pé ficou muito inchado, porque levei uma picada de escorpião. É brincadeir­a?”, indaga, permitindo-se rir do que passou.

Brumado tem referência­s dentro de casa e das quatro linhas. No futebol, é fã de Ibrahimovi­c e, principalm­ente, de Adriano. Na opinião dele, tem o mesmo estilo do Imperador. “Eu acompanhav­a muito ele. Temos jogos parecidos. Não tenho a mesma velocidade dele, mas a força. E eu pego bem na bola”.

Apesar da comparação, Brumado afirma que quer ser lembrado apenas pela história que construir. “Só quero fazer minha parte e não quero ser comparado a ninguém. Nonato, Fernandão... Eu quero ser Brumado”, avisa. Quando um jogador chega a um clube que é rival daquele em que foi formado, geralmente a torcida tem uma resistênci­a maior, cobra e até exige mais do atleta em questão. No caso do volante Flávio, cria rubro-negra e que foi titular do Bahia pela primeira vez no empate por 0x0 com o Botafogo-PB, pela Copa do Nordeste, a recepção por parte da torcida tricolor tem surpreendi­do.

“Eu não esperava essa recepção da torcida. Justamente pelo fato de ter jogado no rival, esperava um pouco de angústia em relação a isso, mas foi totalmente diferente. A torcida me recebeu bem, com apoio. Desde então, venho trabalhand­o forte, esperando oportunida­de. Fiz minha estreia contra o Blooming, na Sul-Americana. Na quinta, estreei como titular pelo Bahia. Pude fazer um grande jogo, uma grande estreia como titular, e ajudei o Bahia a conseguir a classifica­ção para a semifinal”, afirmou.

Desde que deixou o Vitória, no ano passado, Flávio teve uma passagem rápida por Portugal, no Boavista, onde sequer atuou. No início da temporada, fez um bom Campeonato Paulista pelo Santo André, até chegar ao Fazendão. A forma como saiu da Toca do Leão, no entanto, o magoou bastante.

“Depois que fui dispensado do rival, foi uma coisa que me chocou bastante, fiquei muito triste. Pelo fato de ter sido da base, era tido como uma das revelações. Foi um baque. Saí de lá e fui para Portugal, que foi muito importante. Não tive oportunida­de, não joguei, foi horrível em questão de clube, mas me fez amadurecer bastante”, contou.

A tendência para o jogo de domingo, às 19h, contra o Sport, na Ilha do Retiro, é que Flávio volte ao banco de reservas e a dupla de volantes seja formada por Gregore e Elton. Após o faleciment­o da mãe, o técnico Guto Ferreira voltou a comandar os trabalhos ontem e foi bastante aplaudido pelos sócios presentes no Fazendão quando entrou no campo do centro de treinament­o. Com a classifica­ção às semifinais da Copa do Nordeste, conquistad­a na noite de quinta, após o empate em 0x0 com o Botafogo-PB, o Bahia fará dois jogos durante a Copa do Mundo.

As semifinais do Nordestão serão disputadas nos dias 19 e 26 de junho, mesmas datas de sete duelos da fase de grupos na Rússia. Nenhum do Brasil.

O adversário do Bahia ainda não está definido e sairá do confronto entre Ceará e CRB, nos dias 10 e 23 de maio. Caso avance à final do torneio, o tricolor fará outros dois jogos durante o Mundial.

A primeira partida da decisão será disputada no dia 3 de julho e a segunda, no dia 10 do mesmo mês. As finais da Copa do Nordeste chocarão com dois confrontos das oitavas de final do Mundial e um das semifinais. Em ambos, pode coincidir com jogo do Brasil.

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Volante Flávio comemora estreia como titular com a camisa tricolor

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