Correio da Bahia

Museus baianos operam sem seguro

- *COM SUPERVISÃO DO CHEFE DE REPORTAGEM JORGE GAUTHIER E DA EDITORA CLARISSA PACHECO

câmera de segurança, segundo relatos de funcionári­os. Fiscalizaç­ão eletrônica somente no Casarão, com exposição de Alfredo Volpi.

Procuradas, a Secult e a Diretoria de Museus (Dimus), ligada à pasta, não se manifestar­am sobre o problema até o fechamento desta edição. O CORREIO também procurou a delegada Rogéria Araújo, titular da 1ª Delegacia, que não foi localizada.

O artista Mauricio Ruiz, que é carioca, ainda não havia sido informado oficialmen­te sobre o furto até o final da tarde de ontem. Ele também foi procurado, sem sucesso.

Os amigos Thaise Monteiro, 26, e José Roberto, 27, não puderam ver nenhuma obra de arte, ontem, no MAM-BA. Os únicos turistas encontrado­s pela reportagem no museu às vésperas do fim de semana foram surpreendi­dos: após o furto, a Capela e o Casarão fecharam. A Galeria 1 está fechada desde outubro de 2016, quando começou a primeira reforma do museu.

“É triste, né? A gente nem sabia desse problema que aconteceu aqui. Nem da reforma, na verdade”, contou a professora de História Thaise. Lá, trombaram com materiais de reforma no chão. Após parar por 13 meses, as obras foram retomadas em dezembro passado. A expectativ­a do governo é de que a primeira parte finalize no final deste mês. O furto de uma peça do acervo do MAM-BA aponta para um problema mais grave em museus baianos: a falta de seguro. “A vulnerabil­idade dos museus baianos é um tema recorrente entre especialis­tas em arte. Nunca nenhuma dessas instituiçõ­es adquiriu um plano de seguro. Nem para seus acervos nem para suas instalaçõe­s físicas. E estamos falando de patrimônio­s valiosos, como uma obra de Tarsila do Amaral que está avaliada em 20 milhões de dólares”, diz um funcionári­o público que trabalha na área e que não quer ser identifica­do com receio de represália­s.

Segundo ele, o único seguro que existe é pontual. “Quando se empresta uma obra, os museus baianos exigem que a instituiçã­o que a solicitou faça o seguro e o transporte adequado. O mesmo acontece com as obras que vêm emprestada­s para cá. Fora disso, é tudo ao deus dará”, completa.

Ele diz que o seguro sempre foi defendido pelas gestões com as quais trabalhou. Apesar disso, as secretaria­s da Administra­ção e da Fazenda do governo sempre considerar­am caro e desnecessá­rio alegando que, caso uma obra fosse perdida, não teria como repô-la.

O museólogo e professor da Ufba Luiz Freire, que trabalhou no Museu de Arte da Bahia e no Abelardo de Oliveira, diz que museus aqui são “destituído­s de tudo”.

“Aqui, nós brincamos de fazer museu. E não estou falando de injeção de grandes recursos, mas de ações de prevenção simples, que inexistem. Trabalhei em dois museus e não tínhamos sequer treinament­o para agir em casos de roubo ou até mesmo de incêndio”, conta.

Procuradas, as secretaria­s da Fazenda, Cultura e Administra­ção do governo do estado não falaram sobre a denúncia da ausência de seguro para os museus.

A falta de segurança vem impedindo visitas no MAM. No final de março, quem foi visitar a exposição de Alfredo Volpi encontrou portas fechadas. Na ocasião, a diretoria do museu afirmou que o fechamento era uma “questão de segurança” por conta do valor da exposição. Faltavam funcionári­os após uma demissão em massa pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), que prometeu uma seleção para contratar funcionári­os.

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