Museus baianos operam sem seguro
câmera de segurança, segundo relatos de funcionários. Fiscalização eletrônica somente no Casarão, com exposição de Alfredo Volpi.
Procuradas, a Secult e a Diretoria de Museus (Dimus), ligada à pasta, não se manifestaram sobre o problema até o fechamento desta edição. O CORREIO também procurou a delegada Rogéria Araújo, titular da 1ª Delegacia, que não foi localizada.
O artista Mauricio Ruiz, que é carioca, ainda não havia sido informado oficialmente sobre o furto até o final da tarde de ontem. Ele também foi procurado, sem sucesso.
Os amigos Thaise Monteiro, 26, e José Roberto, 27, não puderam ver nenhuma obra de arte, ontem, no MAM-BA. Os únicos turistas encontrados pela reportagem no museu às vésperas do fim de semana foram surpreendidos: após o furto, a Capela e o Casarão fecharam. A Galeria 1 está fechada desde outubro de 2016, quando começou a primeira reforma do museu.
“É triste, né? A gente nem sabia desse problema que aconteceu aqui. Nem da reforma, na verdade”, contou a professora de História Thaise. Lá, trombaram com materiais de reforma no chão. Após parar por 13 meses, as obras foram retomadas em dezembro passado. A expectativa do governo é de que a primeira parte finalize no final deste mês. O furto de uma peça do acervo do MAM-BA aponta para um problema mais grave em museus baianos: a falta de seguro. “A vulnerabilidade dos museus baianos é um tema recorrente entre especialistas em arte. Nunca nenhuma dessas instituições adquiriu um plano de seguro. Nem para seus acervos nem para suas instalações físicas. E estamos falando de patrimônios valiosos, como uma obra de Tarsila do Amaral que está avaliada em 20 milhões de dólares”, diz um funcionário público que trabalha na área e que não quer ser identificado com receio de represálias.
Segundo ele, o único seguro que existe é pontual. “Quando se empresta uma obra, os museus baianos exigem que a instituição que a solicitou faça o seguro e o transporte adequado. O mesmo acontece com as obras que vêm emprestadas para cá. Fora disso, é tudo ao deus dará”, completa.
Ele diz que o seguro sempre foi defendido pelas gestões com as quais trabalhou. Apesar disso, as secretarias da Administração e da Fazenda do governo sempre consideraram caro e desnecessário alegando que, caso uma obra fosse perdida, não teria como repô-la.
O museólogo e professor da Ufba Luiz Freire, que trabalhou no Museu de Arte da Bahia e no Abelardo de Oliveira, diz que museus aqui são “destituídos de tudo”.
“Aqui, nós brincamos de fazer museu. E não estou falando de injeção de grandes recursos, mas de ações de prevenção simples, que inexistem. Trabalhei em dois museus e não tínhamos sequer treinamento para agir em casos de roubo ou até mesmo de incêndio”, conta.
Procuradas, as secretarias da Fazenda, Cultura e Administração do governo do estado não falaram sobre a denúncia da ausência de seguro para os museus.
A falta de segurança vem impedindo visitas no MAM. No final de março, quem foi visitar a exposição de Alfredo Volpi encontrou portas fechadas. Na ocasião, a diretoria do museu afirmou que o fechamento era uma “questão de segurança” por conta do valor da exposição. Faltavam funcionários após uma demissão em massa pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), que prometeu uma seleção para contratar funcionários.