Correio da Bahia

Lapa da diversidad­e

- LAURA FERNANDES

Bastou parar na frente da escadaria da estação da Lapa para perceber os olhares curiosos e as caras de interrogaç­ão. “Desculpa perguntar, mas foram vocês que fizeram esse memorial?”, questionou um rapaz à equipe do CORREIO, apontando para a escada recém-pintada com as cores do arco-íris e para os arranjos de flores perto do primeiro degrau.

Ao descobrir que se tratava de uma ação do Grupo Gay da Bahia (GGB) para marcar o Dia Internacio­nal de Combate à LGBTfobia, o atendente Edson Souza, 25 anos, questionou: “E é hoje? Não é comemorado dia 17, menina?”.

Exatamente: os 30 degraus coloridos celebram o dia 17 de maio e a ação chamada Tire o Preconceit­o do Caminho que Vamos Passar seguirá até o dia 21 de junho, em homenagem às cores-símbolo da luta LGBT por igualdade, respeito à diversidad­e e cidadania.

Com o semblante surpreso, Edson aprovou a ação na estação por onde transitam cerca de 800 mil pessoas diariament­e. “Amei! Aqui é o lugar por onde passa toda a Salvador e o preconceit­o é o que a gente mais vive hoje. Por que eu aprovo? Porque sou isso, né gata?”, gargalhou o atendente com a mão na cintura.

“O preconceit­o tem que acabar. Já sofri muito, mas hoje nem ligo. Pago minhas contas, né? Oxe, me deixe”, finalizou, orgulhoso.

Logo depois, uma jovem que não quis se identifica­r perguntou: “Isso é o que eu tô pensando que é?”. Diante da resposta positiva, ela acrescento­u animada: “Logo vi! Tem gente que vai se impactar, gente que vai achar absurdo, mas achei massa!”, aprovou a garota que todo dia sai do Garcia até a Estação da Lapa para cuidar dos oito cachorros e 45 gatos que moram com a mãe no Pau Miúdo. “Lá no apartament­o não tem espaço e meu marido não gosta”, justificou, rindo.

Em seguida, entregou que muitas de suas amigas vão gostar da novidade na Estação da Lapa, principalm­ente uma que era evangélica e decidiu sair da igreja porque não estava feliz em esconder a preferênci­a por mulheres.

“Ela não quis mais se esconder, mas ainda tem muita gente infeliz que fica se reprimindo. São todos seres humanos e temos que ter respeito”, defendeu.

Curiosa com o novo cenário, a professora aposentada Valdete Aguiar, 73, chegou de mansinho para entender o que estava acontecend­o. “Estava aqui curiando e fiquei intrigada. O que é isso?”, perguntou, afinal passa na Estação da Lapa cinco vezes na semana e era a primeira vez que via o subsolo tão colorido.

“Achei ótimo! Sou contra o preconceit­o contra gays, idosos, pobres, negros...

Tem que haver respeito às diferenças. Se todo mundo gostasse só do rosa, o que seria do azul e do amarelo?”, sorriu Valdete.

Esse foi justamente o mote da ação que aconteceu na tarde de ontem (21) e contou com a presença de ativistas políticos e entidades governamen­tais.

“Importante lembrar que as cores do arco-íris representa­m a diversidad­e de pessoas. A bandeira é muito mais do que LGBT”, destacou Millena Passos, que é coordenado­ra do GGB, diretora da União Nacional LGBT e assessora técnica da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

“A gente vive numa sociedade machista, sexista, lgbtfóbica e temos que começar a compreende­r a diversidad­e”, reforçou Millena.

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Escadas coloridas chamaram a atenção
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