Petrobras perde valor de mercado
Estado da Bahia (Fieb), Vladson Menezes, disse que a situação das indústrias era preocupante. Segundo ele, o impacto da greve em todos os setores da indústria já era esperado. Seja no recebimento de matéria prima ou na distribuição do que foi produzido, as indústrias brasileiras dependem das estradas e dos caminhões.
“Usamos muito pouco outros modais como ferrovias e navegação, mesmo aeroportos”, enumerou Vladson. “Várias indústrias estão com sérias dificuldades e os outros setores também. Insumo não chega e nosso produto deixa de ir para outro mercado”, acrescentou.
Além da greve dos caminheiros, desde o último dia 14 o movimento de carga e descarga no porto de Salvador está parado. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, tentou convencer o mercado financeiro de que tomou decisão "tática" ao congelar e reduzir o preço do diesel em 10%, em resposta ao protesto dos caminhoneiros. Mas não conseguiu e as ações da empresa fecharam ontem, com recuo de 13,71% (PN) e 14,55% (ON). A queda fez a petroleira perder R$ 47,2 bilhões em valor de mercado em apenas um dia, além do posto de empresa mais valiosa da BM&FBovespa, ao ser ultrapassada pela Ambev.
As ações já abriram em forte baixa, o que levou Parente a convocar uma teleconferência com analistas de mercado para tentar conter a queda livre do papel. Em uma hora de conversa, repetiu várias vezes que a medida foi "extraordinária" e que "não irá se repetir". Questionado sobre as garantias de que, num cenário de emergência, não voltará a anunciar o descolamento dos preços dos combustíveis da paridade internacional, o presidente da Petrobras falou em demissão.
"Se por alguma razão não pudermos ter liberdade de preço, terei de sair (da empresa). O governo teria de encontrar novos gestores alinhados a essa visão", afirmou, acrescentando que não vê "o governo fazendo isso (interferindo na geração de receita da empresa)".
Anteontem, em coletiva de imprensa, o principal argumento de Parente para justificar a medida foi que não poderia ser insensível aos prejuízos que a greve causava à população. Aos investidores, ontem, reiterou o discurso: "Ao longo do dia, a crise se intensificou rapidamente e a Petrobras começou a se sentir desconfortável". Avançou, porém, em justificativas financeiras.
"Estamos hoje numa posição melhor do que a do dia anterior. Claramente, saímos de uma posição defensiva para a dianteira. Oferecemos nossa contribuição e assim pudemos reverter os prejuízos que poderiam ser maiores com a paralisação das nossas atividades. Agimos na defesa dos melhores interesses da companhia", disse. Em sua opinião, qualquer gestor em sua posição teria considerado a mesma medida. "Foi um movimento tático", defendeu.
Disse ainda que a diretoria teve autonomia. Nem mesmo o conselho de administração, indicado pelo governo federal, interferiu. Quem está organizando as manifestações?
Não existe uma organização que possa ser apontada como líder da paralisação. Na verdade, a proposta de greve começou a circular de forma espontânea em redes sociais e grupos de WhatsApp de caminhoneiros. Mas uma das principais entidades envolvidas é a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA). Outros sindicatos se juntaram aos protestos, como a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) e a União Nacional dos Caminhoneiros do Brasil (Unicam). O movimento acabou engrossado pelos caminhoneiros de frota, aqueles que são contratados, com carteira assinada. Os protestos atingiram 23 Estados e o Distrito Federal.
Qual é a motivação para os protestos?
A principal exigência é a queda no preço do óleo diesel: segundo os representantes dos transportadores, o custo atual do óleo torna inviável o transporte de mercadorias no país. As entidades querem que o governo estabeleça uma regra para os reajustes do produto.
Como começou a paralisação? O governo foi alertado?
Sim, o governo recebeu avisos de entidades sindicais dos caminhoneiros sobre a possibilidade de uma paralisação. No dia 16 de maio, a CNTA apresentou um ofício ao governo federal pedindo o congelamento do preço do óleo diesel e a abertura de negociações, mas foi ignorada. No dia 18 (última sexta-feira), a organização lançou um comunicado em que mencionava a possibilidade de paralisação a partir de segunda-feira, o que de fato ocorreu.
O Brasil já enfrentou outras greves de caminhoneiros? Quando?
Sim. A mais significativa aconteceu em 1999, organizada pelo líder do Movimento Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho. A mobilização foi motivada por um aumento de 37% no óleo diesel. Em 2015, caminhoneiros bloquearam estradas pedindo o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff.
Por que é tão fácil para os caminhoneiros pararem o país?
Porque o país depende do transporte rodoviário para transportar bens, pessoas e produtos – inclusive matérias-primas e insumos como combustíveis. O País tem poucas linhas de trens, que seria uma alternativa.