Cidade parada
Sem muitos carros na rua, poucos ônibus circulando e muita gente fazendo o caminho a pé. Esse foi o cenário de, pelo menos, três locais de Salvador em mais um dia de greve dos caminhoneiros. Quem saiu de casa e foi até a Estação da Lapa, Farol da Barra e Rio Vermelho só fez isso porque precisava ir ao trabalho ou morava por ali.
Foi o que aconteceu com a vendedora Jaqueline Santos, 36 anos. Na ida para o trabalho, garantiu a carona com o marido. Mas, no retorno, precisou esperar por um ônibus na Estação da Lapa por mais de uma hora. “A volta está mais complicada. Cheguei aqui e nada do ônibus ainda”, disse.
O transporte público foi a alternativa para economizar o pouco do combustível que ainda tinha no carro.
A vendedora conta que tentou, anteontem, abastecer o tanque no Posto Escola BR, localizado no Stiep, mas não teve sucesso. “Chegamos lá e só estavam abastecendo carros do governo. Aí o jeito foi sair logo enquanto ainda tinha meio tanque. Já não estava bom com a greve de ônibus, piorou mais ainda com a greve dos caminhoneiros”, lamentou.
O movimento não foi muito diferente na orla da Barra, nem em um dos pontos turísticos mais conhecidos. O pipoqueiro Orinaldo Reis, 69, vende pipoca há mais de 30 anos no Farol, Campo Grande, Pelourinho e Avenida Sete.
O carrinho de pipoca estava cheio desde a hora que chegou para trabalhar e ele mal vendeu um saquinho. O prejuízo deve chegar a R$ 100: “Esse horário de fim de tarde, isso aqui era pra estar cheio, principalmente por conta do pôr do sol”.
A garçonete da La Bouche Creperia, Juliete da Conceição, foi mais uma que sentiu a queda do volume de pessoas circulando na Barra. “Por volta das 16h, quando o som ao vivo começa a tocar, os clientes chegam. A gente pede a Deus que o movimento não seja fraco. Muita gente que conseguiu abastecer vai querer economizar a gasolina que ainda tem para ir trabalhar”, afirmou.
Nem um dos bairros mais boêmios de Salvador deixou de ser afetado pela greve. Parecia inacreditável não enxergar a fila gigante que constuma se formar na banca do acarajé da Dinha. Do outro lado da rua, o Acarajé de Regina nem abriu. “A uma hora dessas, a fila estava chegando na igreja. Desde ontem (anteontem), só consegui vender a metade do que vendo geralmente. Senti mesmo o baque”, confirmou o filho de Dinha e gerente, Edvaldo Júnior.
Material para fazer o acarajé não vai faltar. Segundo ele, até o azeite de dendê que vem de Valença conseguiu furar o bloqueio dos caminhoneiros. O que tem estocado deve durar mais uns quatro dias. “Graças a Deus, fiz um bom estoque que deve durar até quarta. O que está faltando mesmo é cliente”, acrescenta.