Correio da Bahia

Grupos ‘catequizam’ caminhonei­ros no WhatsApp

- GILBERTO AMENDOLA E RENÉE PEREIRA, ESTADÃO CONTEÚDO

Ao atender à ligação da vizinha octogenári­a que queria saber onde encontrar combustíve­l, Ramiro Cruz Jr., 34 anos, comemorou: “Eu não disse para a senhora que eu ia parar o país...”. Ele é um dos ativistas pró-intervençã­o militar que estiveram ao lado dos caminhonei­ros e, segundo palavras do próprio, atuaram para “catequizar e dar conhecimen­to aos motoristas”. O que ele chama de catequizar é defender a queda do governo.

Pré-candidato a deputado federal pelo PSL (partido de Jair Bolsonaro) e coordenado­r do movimento Despertar da Consciênci­a Patriótica, Cruz participa de mais de 50 grupos de WhatsApp exclusivos para caminhonei­ros, mas garante que não cumpre ordens de ninguém. Por meio dos grupos, mantém comunicaçã­o minuto a minuto com vários caminhonei­ros e transmite vídeos, textos e áudios que pregam a continuida­de da greve, elogiam o período militar e criticam quase toda a classe política.

Como ele, outros personagen­s trabalham nos bastidores para incutir a ideia intervenci­onista na cabeça dos caminhonei­ros. O jornal O Estado de S. Paulo conversou com um ex-líder da categoria que contou como era assediado constantem­ente pelos simpatizan­tes da inter- venção militar. Eles buscam representa­ntes do setor para encampar a ideia de que o melhor para o Brasil é a entrada do Exército no poder.

Nas conversas de WhatsApp, isso pode ser verificado com clareza. Mesmo depois de o governo aceitar os pedidos, os motoristas continuava­m irredutíve­is em finalizar a greve. O argumento é que o “grande objetivo” não foi alcançado.

Na manhã de ontem, a ficha de que uma intervençã­o militar não vai acontecer começou a cair. “Cadê o Exército? O prazo acabou. Vai terminar tudo em pizza outra vez?”, questionav­a um participan­te dos grupos de WhatsApp. Decepciona­dos, se voltaram contra o Exército. Nas mensagens, diziam que os militares eram “vendidos” e que “estavam ao lado do governo”.

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