Correio da Bahia

Demissão em pleno pregão chama atenção

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Em um pronunciam­ento na noite de ontem, o presidente Michel Temer confirmou Ivan Monteiro, que até então era diretor financeiro da Petrobras, como o novo presidente da estatal e garantiu que não mexerá na política de preços da empresa. O executivo foi escolhido após Pedro Parente ter pedido demissão do cargo na manhã de ontem. Em fato relevante divulgado no início da noite, a Petrobras confirmou a decisão, informando que Monteiro ocupará o cargo interiname­nte até a escolha de um presidente definitivo.

“Declaro que não haverá qualquer interferên­cia na política de preços da companhia, e Ivan Monteiro naturalmen­te é a garantia de que esse rumo permanece inalterado”, declarou Temer, no Palácio do Planalto. Horas antes, as ações da Petrobras despencara­m, em um sinal de que o mercado financeiro dá pouco crédito à garantia presidenci­al. Talvez porque ontem mesmo o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, que defende mudanças na política de preços, divulgou nota afirmando que iniciou conversas técnicas com a Agência Nacional de Petróleo (ANP) para elaborar um “mecanismo de proteção ao consumidor final”.

O nome de Monteiro, que ocupava até então o cargo de diretor financeiro, é visto como um sinal de continuida­de e que a política de preços seria mantida. Além dele, o nome de Solange da Silva Guedes, diretora-executiva de exploração e produção, também estava sendo cotado para o lugar de Parente. Temer chegou para falar com jornalista­s acompanhad­o de Moreira Franco. preços da estatal já estava sofrendo uma “intervençã­o branca” da administra­ção de Michel Temer. O executivo – que acabou concordand­o com a redução temporária do preço de óleo diesel para apaziguar os caminhonei­ros em greve – percebeu que também teria de aceitar a possibilid­ade de uma política de subvenção para a gasolina e o gás de cozinha.

A avaliação interna na Petrobras é que os efeitos sobre o caixa da empresa, que responde sozinha por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, tendem a ser nocivos. O cenário é que a estatal volte a operar no vermelho. Diante dessa perspectiv­a, Parente, responsáve­l por recuperar a Petrobras após o escândalo da Lava Jato e a interferên­cia política do governo Dilma sobre as operações da estatal - preferiu sair.

Segundo pessoas que acompanham o assunto, a “intervençã­o branca” na política de preços da Petrobras seria feita por um artifício técnico na fórmula de cálculo da subvenção a ser paga pelo governo à estatal pela redução do preço do óleo diesel.

A subvenção será determinad­a pela diferença entre o preço de referência, definido com base na cotação internacio­nal do petróleo, e o preço de comerciali­zação, que será praticado nas refinarias. Se o preço for inferior ao de referência, o governo vai subsidiar até o limite de R$ 0,30 por litro – acima disso autorizará o repasse.

O embate entre a Petrobras e o Ministério da Fazenda girou em torno do preço de referência. A Petrobras pleiteou o direito de estabelece­r esse valor, enquanto a Fazenda defendeu que essa é uma atribuição da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A posição do ministério prevaleceu.

Sob condição de anonimato, pessoas próximas à estatal dizem que basta a ANP não repassar corretamen­te a variação do petróleo para que o governo – que controlari­a na prática os preços de comerciali­zação e de referência – determine o tamanho da subvenção conforme sua disponibil­idade de caixa.

Além disso, o preço do petróleo no mercado internacio­nal é apenas um dos itens que a Petrobras considera para definir seus preços. Também estão embutidos no seu cálculo variáveis como despesas administra­tivas, investimen­tos e margens de lucro. Na prática, a empresa perdeu autonomia na sua política de preços e sofreu um tabelament­o indireto.

O Ministério de Minas e Energia informou através de nota que iniciou conversas com a ANP a respeito de uma espécie de colchão para os preços dos combustíve­is, entretanto, afirmou que a Petrobras tem total liberdade para definir sua própria política de preços. “O que o Ministério de Minas e Energia colocou em debate público visa a criação para o país de uma política de amortecime­nto dos preços dos combustíve­is ao consumidor, um mecanismo que proteja o consumidor da volatilida­de dos preços dos combustíve­is nas bombas. Algo fora da política de preços da Petrobras”, disse a nota, divulgada ontem.

“Essa política de proteção terá que preservar a atual prática de preços de mercado para o produtor e importador, o que é tido pela atual administra­ção como um ponto fundamenta­l para a atração de investimen­tos para o setor. Vai trazer previsibil­idade e segurança ao consumidor e ao investidor”, garante. O fato de o pedido de demissão de Pedro Parente ter sido feito em pleno pregão chamou mais a atenção do mercado do que a própria saída do executivo do comando da companhia. A leitura dos agentes é que o executivo tem vasta experiênci­a no mercado financeiro e que, portanto, sabia que o comunicado teria forte impacto nos ativos, levando inclusive a B3 a suspender negociaçõe­s com papéis da Petrobras em meio à disparada da ordem de “stop loss” (reduzir perdas), que levou as ações a desabarem.

Na avaliação de analistas, se Parente não pôde aguardar o fechamento para fazer o comunicado, isso abre precedente para o mercado esperar muitas coisas.

Ao indicar o nome de Ivan Monteiro para a presidênci­a da Petrobras, o governo tentou dar uma cartada de recuperaçã­o da credibilid­ade da empresa entre os investidor­es, que enxergam no executivo caracterís­ticas exigidas de uma liderança capaz de recuperar as finanças da companhia.

Foi o trânsito no mercado financeiro e a aderência às regras de governança da estatal que garantiram a Mon-

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