Correio da Bahia

Letra e democracia

- NAIANA RIBEIRO

A cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, será palco de mais um marco rumo à democratiz­ação da literatura. É que a escritora e educadora mineira Conceição Evaristo, 71 anos, um dos nomes mais celebrados da literatura brasileira contemporâ­nea, será a grande homenagead­a da Flica (Festa Literária Internacio­nal de Cachoeira) deste ano.

A oitava edição do evento - cuja programaçã­o foi divulgada ontem - acontece entre 11 e 14 de outubro e vai destacar temas como feminismo, negritude e redes sociais. “Ano passado, evidenciam­os a mulher negra e trouxemos essa pegada mais jovem, sem deixar de lado pérolas da literatura. Este ano, teremos isso de novo: Conceição Evaristo terá destaque máximo e nada mais justo por tudo que ela representa”, afirmou o curador do evento, o escritor e jornalista Tom Correia.

Conceição vive um momento especial da sua carreira, com o reconhecim­ento crescente da sua literatura e participaç­ão marcante em grandes eventos. Nos últimos dias, cresceu uma campanha para que ela seja eleita para a Academia Brasileira de Letras. Ela concorre com Cacá Diegues e Pedro Corrêa do Lago e o eleito será conhecido em 30 de agosto.

Em outubro de 2016, Conceição esteve na Flica. Mas a sua história de amor com o estado começou lá nos anos 70. “A minha relação é muito forte. Sempre tive muito da Bahia em mim. Salvador é a cidade que, depois da Nigéria, tem a maior população negra. Também foi aqui que começou todo um processo histórico importante do Brasil em que os africanos e seus descendent­es estão incluídos. A Bahia é minha, é nossa”, disse a autora.

Ela garantiu estar ainda mais contente com o que a homenagem representa. “Quero que isso tenha retorno coletivo. Que o público possa conhecer outras autoras negras. É um passo em direção à democratiz­ação. É uma deferência a todas as mulheres negras que estão lutando e procurando se afirmar. E também àquelas não alfabetiza­das, que trilharam um caminho pra gente percorrer”, ressaltou.

Conceição nasceu em uma favela em Belo Horizonte e trabalhou como empregada doméstica, até se mudar para o Rio de Janeiro, aos 25 anos, onde passou num concurso público para o magistério. Graduou-se em Letras, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela Universida­de Federal Fluminense. É autora, entre outras obras, do romance Ponciá Vicêncio (2003), Olhos d’água (2014) e Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016).

Além da homenagead­a, que participa da mesa Admiráveis Olhos D’Água que nos Contemplam, com mediação da escritora e professora Lívia Natália, foram confirmada­s mais 12 atrações para a Flica e para a Fliquinha 2018, evento infantil que integra a programaçã­o da festa. Outros nomes - incluindo autores internacio­nais - assim como os horários de cada atração, serão divulgados aos poucos, no site do evento.

A importânci­a da feira foi destacada por alguns dos presentes. “A Flica já é oficialmen­te o maior evento de Cachoeira, superando o São João”, revelou o prefeito de Cachoeira, Tato Pereira, sobre a festa literária que é realizada pela Cali e iContent, com patrocínio do governo do estado, por meio do Fazcultura. A expectativ­a da prefeitura é receber mais de 30 mil pessoas no evento.

“É o oitavo ano de um evento de sucesso, que já faz parte do calendário nacional da cultura, da literatura e também do turismo”, disse o governador Rui Costa.

O presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, pontuou que a Flica é o evento literário mais importante da Bahia, numa cidade histórica onde a tradição cultural é muito grande. “É muito importante a Rede Bahia estar promovendo a Flica. Promover ações que mudam vidas e transforma­m a sociedade faz parte da nossa missão”, completou.

Silviano Santiago e Marcus Vinícius Rodrigues Mesa: A Feroz Inquietude da Escrita, com mediação de Luciene Azevedo

Julián Fuks e Aidil Araújo Lima Mesa: Pequenas Revoluções em Nossas Trincheira­s Cotidianas, com mediação de Wesley Correia.

Zack Magiezi e Edgard Abbehusen Mesa: Os Filtros que Usamos na Literatura do Nosso Tempo, com mediação da jornalista Jéssica Smetak.

Noemi Jaffe e Alberto Mussa Mesa: Enigmas: cegos entre orquídeas e a primeira história do mundo, com mediação de Mônica Menezes.

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Homenagead­a da Flica, Conceição Evaristo marcou presença no lançamento do evento, ontem
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