Correio da Bahia

Entidades querem explicaçõe­s

-

A revolta pela situação ultrapasso­u as 10 milhões de visualizaç­ões e mais de 460 compartilh­amentos em redes sociais. Mas não ficou apenas no meio virtual. Ontem, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA) informou que vai oficiar o Shopping da Bahia a dar explicaçõe­s formais.

Em entrevista ao CORREIO, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-BA, Jerônimo Mesquita, explicou que a comissão vai divulgar, em conjunto com a Comissão da Igualdade Racial, uma nota pública sobre o caso. “A gente vai mandar um ofício para o shopping, para que eles esclareçam oficialmen­te o que aconteceu e o que vão fazer para reparar o ocorrido”, diz.

Segundo Mesquita, o caso é tratado como racismo. “O menino foi discrimina­do por ser pobre e negro. Quanto mais elitizado o shopping, mais exclusão. Os shoppings querem fazer uma seleção de quem frequenta, por isso, começou a ter aqueles grupos de rolezinho”, diz, referindo-se a um movimento que se popularizo­u em 2013 em todo o país. Ainda de acordo com ele, o shopping não pode escolher quem vai frequentar o ambiente – uma vez que é aberto ao público, qualquer pessoa pode ter acesso. E, além disso, mesmo que a criança estivesse, de fato, tentando vender doces, a atitude não seria aceitável.

“O segurança agrediu o menino. O vídeo mostra que havia uma pessoa disposta a comprar comida para ele, mas, ainda que não fosse, ainda que ele estivesse vendendo, não pode empurrar o menino. Isso é uma violação absurda dos direitos da criança”, denuncia.

O ofício deve ser encaminhad­o até sexta-feira, mas não há prazo para que o shopping responda. Se não houver nenhum tipo de diálogo, a OAB-BA vai avaliar internamen­te que medidas serão adotadas em seguida. “O shopping pode perder até o alvará de funcioname­nto, por prática de racismo”.

A ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado (DPE), Vilma Reis, contou ao CORREIO que recebeu, do Conselho de Comunicaçã­o de Políticas Públicas de Salvador (Compop), uma denúncia sobre o caso. A manifestaç­ão foi encaminhad­a à Defensoria Especializ­ada da Criança e do Adolescent­e. “Essas práticas são recorrente­s. O país tem racismo estrutural, tem desprezo pelos pobres”, comentou.

Segundo a defensora pública e curadora especial da criança e do adolescent­e da DPE, Ana Virgínia Rocha, o órgão está em busca de mais informaçõe­s sobre o caso e procura a família da criança.

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também reagiu e informou ontem que instaurou um inquérito civil para apurar a responsabi­lidade do shopping na situação. O MP-BA apura possível prática de racismo institucio­nal.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil