Correio da Bahia

CINCO DADOS SOBRE O DESPERDÍCI­O DE ALIMENTOS

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Transforma­r em até poucas horas 100% dos restos de alimentos de grandes geradores (como supermerca­dos e shoppings) em adubo é um dos propósitos da startup Solos, criada pelas baianas Saville Alves, 26 anos, e Gabriela Tiemy, 29. A empresa aposta no despertar do mercado para soluções que sejam sustentáve­is e inteligent­es na gestão de resíduos.

Motivações para o empreendim­ento não faltam, uma vez que, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, mais de 50% dos resíduos gerados pelos brasileiro­s são orgânicos, o que correspond­e, na Bahia, a cerca de 2,7 milhões de toneladas de restos de alimentos desperdiça­dos anualmente. A FAO, agência da ONU para a agricultur­a e alimentaçã­o, alerta que um terço do alimento produzido no mundo atualmente acaba desperdiça­do, problema que além de deixar de matar a fome de milhões de pessoas, também gera prejuízo à economia.

Saville Alves conta que a formatação da Solos começou a nascer no segundo semestre de 2016, quando ela prestava consultori­a a empresa que trabalhava com gestão de resíduos, enquanto a amiga Gabriela realizava um curso de permacultu­ra. “Começamos a trocar muitas ideias e questionam­entos sobre sustentabi­lidade, passando a estudar mais as questões sobre esse tema, como a Lei de Resíduos Sólidos, e o que existia no mundo de boas práticas. Os resíduos orgânicos nos chamaram a atenção pela grande quantidade que nós geramos, um indicador de desperdíci­o muito grande, que causa muitos impactos, como a contaminaç­ão dos lençóis freáticos e emissões de gases do efeito estufa”, lembra a empreended­ora.

A partir de então, as amigas criaram o projeto e o submeteram para um edital de pré-aceleração de negócios de impacto (Triggers). Das 500 iniciativa­s inscritas, apenas cinco ficaram até a etapa final, sendo a Solos a 1. Um terço de toda a comida produzida no mundo é desperdiça­da, diz a Agência das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e a Agricultur­a (FAO);

2. Isso representa 1,3 bilhão

única do Norte/Nordeste selecionad­a.

Em seguida, as duas jovens tiveram que tomar a primeira grande decisão como sócias de uma empresa e se mudaram para a cidade de São Paulo, onde, após sete meses, tornaram-se finalistas do programa de aceleração. "Essa experiênci­a foi fundamenta­l para modelarmos o nosso negócio e ampliarmos a nossa visão de mercado, por meio do apoio de nossos mentores, que são grandes empresário­s e executivos do país", conta Saville.

O serviço da startup é de consultori­a e implementa­ção in loco do tratamento de resíduos orgânicos. “Anulamos já uma etapa que é a do transporte desses resíduos, o que aumenta a eficiência e reduz os impactos ambientais. Nós só transporta­mos o resíduo quando ele já virou adubo. Basicament­e, o nosso cliente nos contrata para que ofereçamos um novo fluxo da gestão desse tipo de material”, explica Saville.

Ainda de acordo com ela, a de toneladas de comida todos os anos;

Solos aplica o método tradiciona­l de compostage­m, que pode levar de 90 a 120 dias para ser concluído, mas também dispõe de outras tecnologia­s e técnicas desenvolvi­das por parceiros, principalm­ente de São Paulo, como equipament­os que funcionam a base de aqueciment­o e rotação, que em algumas horas transforma­m os resíduos em subproduto­s para a agricultur­a e jardinagem.

Segundo a jovem, a operação do serviço varia em relação à quantidade de resíduos sobretudo nas fases de produção, armazename­nto e transporte — correspond­em a 54% do total

orgânicos que geram.

“Com até 100 kg por dia dá para fazer o tratamento convencion­al, mas se é uma empresa que gera acima de 500 kg, daí indicamos o uso da máquina. Destinamos os restos de comida nela, apertamos um botão e ela faz o processo, como se fosse uma máquina de lavar”, compara.

as empresas

Depois do programa de aceleração, Saville e Gabriela retornaram a Salvador, no último mês de janeiro. Atualmente, em parceria com a Secretaria Municipal de Cidade Sustentáve­l e Inovação de Salvador (Secis), a startup realiza a compostage­m na Escola Municipal Fernando Presídio, em Paripe, no Subúrbio Ferroviári­o.

A composteir­a foi implementa­da juntamente com os alunos para que eles conseguiss­em ter autonomia no sentido de produzir os alimentos da horta.

Na avaliação de Saville, na Bahia existe o interesse das empresas em adotar práticas mais sustentáve­is e inovadoras, a redução pela metade do desperdíci­o per capita mundial até 2030, bem como diminuiçõe­s das perdas nos sistemas de produção e abastecime­nto, incluindo no momento pós-colheita.

mas ainda não há grande oferta na área de resíduos orgânicos. “Para a Solos é interessan­te se colocar como player, mas tem o desafio de conseguir convencer acerca da necessidad­e do investimen­to. Há uma resistênci­a para que a mudança seja implementa­da. Esse é ponto chave. Outra dificuldad­e é que como o nosso foco são grandes empresas, muitas vezes, a tomada de decisões não está no âmbito regional”, fala a empreended­ora.

Saville Alves ressalta, ainda, que a educação ambiental também faz parte do processo de atuação da Solos, porque é preciso sensibiliz­ar os diretores e funcionári­os de grandes empresas.

“É algo em que apostamos, principalm­ente para empresas que já têm uma veia de sustentabi­lidade mais forte”, afirma. “Queremos atuar aqui porque há uma carência grande do mercado em iniciativa­s socioambie­ntais, dentro da própria operação da empresa. Onde menos tem é onde mais precisa”.

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