Correio da Bahia

Só faltou o jegue

- PRISCILA NATIVIDADE

O dia é de São João, mas quem deu mesmo o que falar foi o jegue. Pela primeira vez, o bicho ficou de fora do tradiciona­l arrastão que puxa há 35 anos, no dia em homenagem ao santo, pelas ruas do bairro da Ribeira.

Segundo o organizado­r da Levada do Jegue, Moisés Cafezeiro, na sexta-feira (22), o Ministério Público (MP-BA) proibiu o jegue de participar do desfile. "Foi de última hora. Recebemos a intimação alegando maus-tratos ao animal por conta do som e aí tivemos que cumprir. Mas vamos entrar com uma ação na Justiça para o jegue voltar. É uma tradição de 35 anos que não faz mal nenhum", afirmou Moisés.

O cortejo saiu com um pouco mais de 1h de atraso, ainda na expectativ­a de que o jegue aparecesse. “Estão dizendo aí que ele não vem este ano, mas isso nunca aconteceu. Aí estamos aqui esperando para ver”, afirmou um dos músicos da fanfarra, que para não criar treta diante da boataria, preferiu não se identifica­r.

E não deu mesmo para o jegue. Mas foi só puxar um clássico de Gonzagão, que o arrastão saiu assim mesmo. E logo ali na frente, quem puxou o xote foi a aposentada Marina Pires, 88 anos. “O jegue não veio, mas animação eu tenho de sobra”. Falta, o bicho até fez, mas para o funcionári­o público Vicente Grana, 51, deu pra compensar com o forró. “Cortaram o bichinho, que é uma tradição nossa. Falta faz, né? Mas o arrastão não pode deixar de acontecer”.

Antigament­e, dois arrastões se encontrava­m no Largo do Papagaio - o Jegue de Cueca, que vinha de Massarandu­ba, e a Jegue de Calçola, do Uruguai. Durante o percurso, os foliões batiam de porta em porta pedindo licor, que é outra tradição da Levada.

Barrado pelo MP, o jegue não fez muita falta para o técnico de segurança Kauã Batista, 33, e as filhas Samira e Serena. “A alegria e a união do povo é mais importante”. Já para o funcionári­o público, Everaldo Ribeiro, 57, o Vevéu, o jegue tem que voltar.

O licor, pelo menos, foi liberado. “Aqui é tudo de bom. Eu deixei de viajar porque o melhor São João que tem é esse daqui”.

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Moradores da Ribeira puxam o tradiciona­l arrastão, que não contou este ano com o jegue, barrado pelo Ministério Público na sexta-feira (22)

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