Ações despencam 14% após o anúncio
alguma restrição para que a Boeing faça isso no futuro.
O memorando de entendimentos divulgado por Embraer e Boeing também menciona a criação de uma nova empresa na área de defesa, um tema extremamente sensível para o governo brasileiro, mas ainda sem muitos detalhes.
A direção da Embraer diz que as negociações estão em curso, mas o desenho mais provável é que os ativos relacionados ao avião cargueiro multimissão KC-390 sejam transferidos para uma nova empresa. Só que, neste caso, a Embraer deteria o controle e a gestão da companhia, enquanto a Boeing ficaria como acionista minoritária. As participações, no entanto, ainda não foram definidas.
O objetivo da gestão da Embraer com o negócio na área de defesa é que a Boeing ajude o KC-390 a conquistar clientes, já que esse mercado é bastante complicado de acessar. A fabricação do avião permaneceria em Gavião Peixoto (SP).
A associação entre Embraer e Boeing deve se tornar um dos temas das eleições presidenciais de outubro, já que o surgimento da fabricante de aviões brasileira foi totalmente financiado pelo governo a partir de 1950.
Com o passar dos anos, no entanto, a Embraer entrou em crise e acabou privatizada em 1994. Desde então, tornou-se uma das companhia mais bem-sucedidas do país e hoje é a quarta maior fabricante global de aviões, atrás de Boeing, da francesa Airbus e da canadense Bombardier.
A Embraer informou que permanecerá uma companhia aberta, registrada na Categoria A, e com ações listadas no segmento especial do Novo Mercado da B3, dona da Bolsa brasileira.
A União também manterá seus direitos decorrentes da ação especial, que dá direito a veto da companhia.
A nova empresa terá uma política antidiluição e uma de dividendos, “com o objetivo, inclusive, de proteger o investimento da companhia”, disse a Embraer.
Segundo a Embraer, os documentos definitivos do acordo deverão prever ainda regras para a transferência de ações, incluindo o direito de primeira oferta, o direito de venda conjunta de acionistas minoritários caso o controle da companhia seja adquirido por um novo investidor (tag along) e o direito de obrigar a venda conjunta (drag-along) por parte dos minoritários se o acionista majoritário decidir vender sua participação.
“A companhia terá o direito de vender sua participação na nova sociedade para a Boeing, como usual em operações dessa natureza”, disse a Embraer. As ações da Embraer caíram mais de 14% ontem após o anúncio de que a Boeing comprará 80% da divisão de jatos comerciais da companhia. Às 15h10, os papéis eram negociados a R$ 23,09, queda de 14,39%. No mesmo momento, o Ibovespa perdia 0,43%, a 74.420 pontos.
“Embora a companhia brasileira tenha 20% do novo negócio, a transação pode criar sinergias para todos os segmentos de negócios da Embraer”, disse Marcos Schmidt, analista sênior da Moody’s. “O impacto na qualidade de crédito da Embraer dependerá da proporção dos recursos da operação utilizados em pagamentos de dividendos, desalavancagem e investimentos”, acrescenta. Segundo Rafael Passos, analista da Guide, a dúvida sobre o destino do dinheiro do acordo é uma das explicações para a queda das ações da companhia.