Correio da Bahia

OAB questiona prazo em ações

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Onde denunciar Promotoria de Combate ao Racismo e Intolerânc­ia Religiosa - Tel: (71) 3103-6409; Centro de Referência Nelson Mandela - Tel: (71) 3117-7438; Ordem dos Advogados do Brasil/Bahia (OAB-BA) - Tel: (71) 9 8764-4606; Ouvidoria da PM Tel: (71) 3115.9324 / 3115.9347; Ouvidoria Polícia Civil - Tel: (71) 3116-4669 / 3450-1212 A presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia (OAB-BA), Dandara Pinho, destaca que a entidade considera “absurdo” que as decisões judiciais em processos de racismo não ocorram em tempo razoável do processo. “É preciso que a pauta racial seja tratada pela Justiça baiana com firmeza”, defende.

Ela questiona os prazos. Para a advogada, é preciso refletir se a dificuldad­e ocorreria pela falta de comprometi­mento com a justiça social e com o combate ao racismo ou por questões processuai­s. “Outra reflexão que precisamos fazer é se o racismo está tão projetado na magistratu­ra baiana que não se consiga perceber a gravidade de um processo com esse teor”, pontua.

Em entrevista ao CORREIO, o desembarga­dor Ivanilton Santos da Silva, integrante da 3ª Câmara Cível do TJ-BA, admitiu que o número de sentenças no universo de processos por racismo é ‘reduzido’. Para ele, um dos dois desembarga­dores negros do TJ-BA, o racismo não é visto de forma objetiva pela maior parte dos juízes.

“Esses crimes de natureza racista envolvem sentimento­s, tradições, conhecimen­tos gerais. Vai muito do subjetivis­mo de o que é o racismo, como ele deve ser encarado. Às vezes, envolve até a própria pessoa do julgador: como ele se sente, se sente branco, se sente negro”.

Em 2014, no último censo dos magistrado­s, feito pelo CNJ, 15,4 dos juízes se autodeclar­aram como pretos ou pardos. Para ele, o problema, por muito tempo, é que se fazia de conta de que o racismo não existia. “Se dizia que a gente vivia numa democracia racial, coisa que nunca aconteceu. Os negros, no Brasil, sofreram as consequênc­ias da escravidão e, ainda hoje, sofrem essas consequênc­ias. De uns anos para cá, começamos a conversar sobre o assunto. À medida que se conversa, os julgadores ficam mais esclarecid­os e começam a abordar mais diretament­e o assunto. Espero que, em breve, tenhamos exames mais céleres”, afirmou.

Ele acredita, inclusive, que o número de processos deveria ser muito maior – se todos que já tiverem sido vítimas de racismo denunciass­em o crime. No entanto, o que acontece é que, desde a apuração, é comum considerar que sequer houve crime. O desembarga­dor reforça: o racismo é praticado tanto de maneira ostensiva quanto de maneira velada. Porém, por vezes, o desafio é que não há materialid­ade. Ele exemplific­a: se alguém te dá um chute e ofende sua integridad­e física, um exame médico vai constatar isso. Nos casos de racismo, não. Os agressores costumam sair pela tangente.

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