Correio da Bahia

Queremos pagar a conta de luz

- LUIS ANTONIO GOMES É PROFESSOR E ESCRITOR

Se tem uma conta que é mais paga no Brasil é a de energia, a popular ‘conta de luz’. Algo tão necessário na rotina dos brasileiro­s que se houver algum imprevisto, isto é, o não cumpriment­o da obrigação, a companhia de energia elétrica suspende os serviços.

Todos os meses, a fatura em forma de nota fiscal chega às residência­s com alguns dias de antecedênc­ia do vencimento, diga-se de passagem. Para alguns consumidor­es, essa preocupaçã­o quase que não existe por conta de pagarem com o débito automático em conta-corrente ou utilizarem o aplicativo em seus aparelhos smartphone­s. Mas a grande parte da população precisa ir às filas para quitar a fatura e, nos últimos dias, no estado da Bahia está mais complicado cumprir esse compromiss­o.

Depois que foi encerrado o convênio da Coelba com a Caixa Econômica Federal devido ao aumento nas taxas da referida instituiçã­o bancária cobradas à companhia de energia elétrica, a situação da população, principalm­ente as de classe mais baixas, ficou muito complicada. As agências lotéricas eram os lugares mais utilizados por todos para efetuarem esse pagamento mensal.

A Coelba explica em seu site oficial que há mais de “700 estabeleci­mentos credenciad­os em todo o estado da Bahia” como opções de locais de pagamento, com o objetivo de facilitar a vida dos clientes. O que, na prática, não está ocorrendo, pois havia mais de novecentas casas lotéricas que aceitavam as contas, além de serem mais acessíveis nos bairros, de fácil acesso, elas também ofereciam vários caixas, o que diminuía o tempo para realizar a operação. Nessa conta, com a mudança, o que aconteceu foi uma diminuição dos pontos de pagamento.

Para aqueles que têm acesso à tecnologia e a outras facilidade­s, o que não é o caso da maioria da população, a empresa até oferece algumas alternativ­as para o pagamento, dentre elas, o débito automático bancário em conta-corrente, home banking; totens em algumas lojas com cartão de débito de apenas uma bandeira; os Correios que trabalham com o Banco Postal; além dos bancos credenciad­os, que não são os principais que atuam no mercado, e o pagamento por meio de um cadastro no próprio site da Coelba. Mas, mesmo assim, está muito difícil para aqueles que querem pagar as suas contas em dia e que não têm acesso a esses canais de pagamento.

Os transtorno­s são evidentes. Há relatos de consumidor­es que enfrentara­m até oito horas em uma fila; de mais de cem pessoas na fila; de locais que têm limite de recebiment­o; de locais que estão cobrando taxa para receber a conta – o que não é utorizado pela Coelba – e, sem contar, a quantidade de idosos que estão tendo que ficar expostos ao sol ultrapassa­ndo, algumas vezes, o horário de almoço e até mesmo em situação de perigo ao ficarem sujeitos à inseguranç­a de algumas esquinas e ruas durante as filas com valores em mãos.

Há bairros em Salvador que não têm postos credenciad­os para efetuar o pagamento da fatura da conta de energia e em outros bairros têm apenas um posto de recebiment­o. No interior do estado, a situação é complicada também, pois tem gente que precisa se deslocar de uma cidade até outra para pagar uma conta de energia. E, é claro, isso tem um custo, no mínimo o transporte. Sem se falar no tempo que muitos estão perdendo em uma fila.

Acompanhan­do as excelentes matérias da TV Bahia nos últimos dias, tanto no Jornal da Manhã como no Bahia Meio Dia, em que destaca o assunto de forma direta, com os profission­ais indo in loco verificar o que está acontecend­o na cidade e no interior, este que vos escreve ficou indignado em perceber que as autoridade­s estão assistindo a tudo isso indiferent­es e com uma incrível distância do problema da população.

Vamos aguardar o que acontecerá nos próximos dias. O Ministério Público já notificou a Coelba. E a Caixa Econômica Federal? Um banco público que deveria ter preocupaçã­o com os que precisam e poderia abrir mão um pouco de seus lucros. Ela tem responsabi­lidade também e é a parte principal na solução deste problema.

Enquanto isso, a grande parte da população continuará sofrendo para pagar a conta de energia, cumprirá a obrigação mensal e vai esperar que as duas empresas entrem em acordo. Até quando?

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