Correio da Bahia

PT corre para tentar frear a perda de aliados

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O desembarga­dor Rogério Favreto, do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), terá motivos para se recordar do plantão dele no último domingo, por um bom tempo. Foram dele as decisões de determinar a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se não bastasse ter sido desautoriz­ado pelos presidente­s do TRF4 e do Superior Tribunal Federal (STF), Favreto entrou ontem na mira da Procurador­ia-Geral da República.

A procurador­a-geral, Raquel Dodge, enviou ao STJ o pedido de abertura de inquérito judicial para investigar o desembarga­dor pelo crime de prevaricaç­ão, em virtude da batalha de decisões. Dodge também enviou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) uma reclamação disciplina­r pedindo a condenação do desembarga­dor por infração disciplina­r. Procurada, a assessoria de imprensa do TRF4 disse que o desembarga­dor só vai se manifestar ao longo do processo.

Segundo os pedidos, Dodge afirma que a conduta de Favreto revela “episódio atípico e inesperado que produziu efeitos nocivos sobre a credibilid­ade da Justiça e sobre a higidez do princípio da impessoali­dade”.

Para a procurador­a-geral, há evidências de que o magistrado agiu movido por sentimento­s e interesses pessoais, tendo praticado uma sucessão de atos dolosos contrários a regras processuai­s que ele bem conhecia, com o propósito de “colocar a todo custo o paciente em liberdade, impulsiona­ndo sua candidatur­a a presidente da República”.

“As notórias e estreitas ligações afetivas, profission­ais e políticas do representa­do com o réu, cuja soltura ele determinou sem ter jurisdição no caso, explicam a finalidade de sua conduta para satisfazer interesses pessoais e os inexplicáv­eis atos judiciais que emitiu e os contatos que fez com a autoridade policial para cobrar urgência no cumpriment­o de suas decisões”, escreveu Dodge.

Raquel Dodge afirma que a escala de plantão do TRF4 foi publicada no mês anterior, no dia 13 de junho, indicando que Favreto estaria trabalhand­o no dia 4 de julho. O habeas corpus foi protocolad­o, segundo a procurador­a-geral, “de modo que o representa­do (Favreto) exercesse a jurisdição plantonist­a de forma ininterrup­ta, até segunda-feira, 11h”. Do contrário, uma decisão poderia ser revista pelo juiz natural da causa, o relator João Gebran Neto.

Dodge chama a impetração do habeas corpus de “ato orquestrad­o meticulosa­mente para, em detrimento da lei vigente, alcançar a soltura do réu, que havia sido negada pelas vias processuai­s lícitas e competente­s”. Para ela, a conduta adotada pelo desembarga­dor “apresenta elementos de ato ilícito praticado dolosament­e com o objetivo de satisfação de sentimento­s e objetivos pessoais, tipificado pela lei penal”.

Dodge diz ainda que o desembarga­dor agiu com parcialida­de para soltar Lula “a todo custo”, em pelo menos dois momentos: “pela adoção de premissas artificiai­s e inverídica­s para afirmar ter jurisdição sobre o caso e para fazer crer à Polícia Federal que sua decisão era válida” e “pela conduta insistente e incomum do representa­do para fazer a Polícia Federal cumprir com urgência, que chegou a ser marcada em uma hora, sua decisão, para a qual não tinha jurisdição”.

Segundo ela, a pré-candidatur­a de Lula não é fato novo a autorizar a decisão de magistrado plantonist­a.

A procurador­a-geral da República lembra ainda que o desembarga­dor foi filiado por quase 20 anos ao PT, “só se desligando no ano anterior a sua nomeação como desembarga­dor federal do TRF4 pela ex-presidente Dilma Rousseff”.

A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, rejeitou ontem mais 143 habeas corpus (pedidos de liberdade) para Lula impetrados por cidadãos. Anteontem, ela já havia rejeitado um dos pedidos desse tipo, em decisão na qual fez críticas ao desembarga­dor Rogério Favreto.

Segundo Laurita Vaz, “o Poder Judiciário não pode ser utilizado como balcão de rei- vindicaçõe­s ou manifestaç­ões de natureza política ou ideológico-partidária­s”.

De acordo com Laurita Vaz, as petições eram padronizad­as e tinham, inclusive, o mesmo título: “Ato Popular 9 de julho de 2018 - Em defesa das garantias constituci­onais”. Todas as petições foram apresentad­as em papel e em curto espaço de tempo, ocupando o trabalho de vários servidores.

A assessoria do STJ informou que o documento trata-se de um tipo de formulário com espaço em branco para nome, RG e assinatura – os impetrante­s completara­m as lacunas e assinaram. O PT aproveitou a repercussã­o do imbróglio jurídico sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reacender a mobilizaçã­o da militância e dar fôlego às conversas para a formação de alianças.

Dirigentes petistas sentaram-se à mesa com outras legendas neste início de semana na esperança de neutraliza­r a movimentaç­ão de aliados históricos na direção de outros candidatos.

Ontem, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), encontrou-se em Brasília com o presidente do PSB, Carlos Siqueira. Na reunião, ouviram de Siqueira que o partido de fato considera apoiar o pedetista Ciro Gomes.

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