Copa gringa
O turista francês Cristophe Pavie, 47 anos, acredita estar certo. A taça erguida, no final da Copa do Mundo, no estádio Lujniki, em Moscou, ontem, pelo goleiro Hugo Lloris, não pertencia ao seu país. Ela é do mundo. Sim, isso porque, argumenta o turista, dentro de campo, defendendo a ‘le bleu’, estava uma segunda geração de imigrantes - mais da metade dos jogadores escalados para defender a pátria francesa tem suas raízes em outros países.
No Pelourinho, os franceses, de passagem por Salvador, se concentraram nos bares, para assistir à partida - deu França, 4x2. Foi na Cantina da Lua que a maioria deles estava, inclusive Cristophe, na companhia de esposa e filhos. Para ele, o que mais contou para o título foi o time veloz, jovem e multiétnico. “A mistura é uma vantagem pra todo mundo, porque temos uma mistura de cultura, de pensamentos, de causas sociais, refletindo no jogo. Mas, na França, ainda há pessoas racistas”, disse o turista francês.
A França chegou à competição, ao lado da Nigéria, com o elenco mais jovem, com a média de 26 anos. A mais velha foi a Costa Rica, com 29,6. A média do Brasil foi de 28,7. Falando nisso, Mbappé, 19 anos, que marcou o quarto gol para a seleção campeã, foi o jogador mais jovem a balançar as redes em uma final desde Pelé.
Pelas ruas e estabelecimentos do Centro Histórico, nada de croatas. Mas sem problema, já que a maioria dos soteropolitanos os representou, acreditando e desejando que a seleção do leste do velho continente pudesse chegar lá.
O motorista Nicolas Marques, 36, acompanhava a partida em uma pequena televisão de um bar com amigos. Não se engane ao pensar que ele estava a favor dos franceses só porque vestia a camisa do campeão mundial. Na verdade, Nicolas queria ter visto os croatas levantarem a taça. Mas no guarda-roupa, nada de camisa quadriculada nas cores branco e vermelho, só restou a azul. “Não estou falando russo e nem grego, já disse: essa era a única camisa que eu tinha, foi um presente do meu pai”, justificou, já cansado daqueles que desconfiavam da sua torcida pela Croácia.
Para as amigas argentinas, não era conveniente torcer para a França. Como poderia desejar que seus algozes no campeonato, aqueles que foram capazes de eliminá-los nas oitavas de final, pudessem ser os primeiros do mundo? Assim, como não era conveniente para nós brasileiros. Basta buscar na memória a triste final de 1998, quando perdemos para os donos da casa na cidade de Saint-Denis, na França. “Claro que (torço para) Croácia, porque perdemos para a França e vocês também”, disse a mochileira Carolina Melgarejo.
A alemã Selina Van Schumann, 23, também estava ao lado dos croatas. Embora ela tivesse motivos para torcer o nariz para a França pela relação histórica conflituosa entre as duas grandes potências europeias, Selina jura que torceu pela Croácia apenas pelo fato de uma das sua melhores amigas ter nascido lá.
O fato é: os franceses voltam para casa com a medalha no peito; os croatas carregam a prata, reverenciados pela boa atuação. Os hermanos, coitados, finalizaram a Copa com um astro que não trouxe o caneco. Os alemães não foram os mesmos que passaram por cima dos donos da casa em 2014. E nós, brasileiros, que não desistimos nunca, ficamos a esperar mais quatro anos, para tentar cravar a sexta estrela. Até 2022.