Ciclista atropelado e morto
O pedreiro Evangelista dos Santos, 67 anos, já não fazia mais nada a pé ou de ônibus, preferia se deslocar com a sua bicicleta. Ontem, quando começaria um novo trabalho, apesar da aposentadoria, ele foi atropelado na Avenida Luis Eduardo Magalhães, por volta das 7h, nas imediações do viaduto que dá acesso à Avenida Paralela. Não resistiu ao acidente e morreu no local. O motorista do veículo fugiu, sem prestar socorro.
De acordo com a Transalvador, até maio deste ano, foram registrados 43 acidentes com ciclistas na capital - dois morreram. Em todo o ano passado, foram 133 acidentes, com uma morte (veja dados ao lado).
A Polícia Civil identificou o nome do proprietário do carro que não seria a mesma pessoa que dirigia o veículo na hora do acidente. Ainda segundo a polícia, o condutor se apresentará na manhã de hoje, com o advogado. A identidade não foi revelada.
Evangelista, de acordo com familiares, estava sempre ocupado, fazendo bicos como pedreiro. Ontem, ele saiu de casa, na Travessa São João, em Pernambués, por volta das 6h, para buscar uma caixa de ferramentas no bairro do Alto do Cabrito. Ele já estava acostumado a percorrer longas distâncias, já que fazia parte de um grupo de ciclistas - nesse caso, 26 quilômetros para ir e voltar.
Antes de sair, o pedreiro prometeu voltar para casa para tomar café com a esposa. Também prometeu chegar a tempo para uma caminhada, como costumava fazer ao lado da companheira. Ele estava retornando quando o acidente aconteceu.
“É uma dor que eu não con- sigo explicar. Ele era um ótimo profissional, você precisava ver cada casa linda que ele construía”, lembra a dona de casa Laurinda dos Santos, 50, esposa da vítima.
Já nas proximidades do viaduto de acesso à Avenida Paralela, um veículo branco acabou colidindo com sua bicicleta. Evangelista morreu no local e seu corpo foi retirado da pista por volta das 9h30 por peritos do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). De acordo com familiares, o condutor do carro não parou para prestar socorro à vítima e fugiu. O ciclista estava de capacete e sua bicicleta tinha sinalização.
Um vizinho que fazia uma corrida próximo do local do acidente foi quem reconheceu o corpo do pedreiro. Ele foi o responsável por avisar à família. “Ele (o vizinho) corria aqui perto quando passou e reconheceu a bicicleta. Evangelista era um homem bom que gostava muito de bicicleta”, contou a estudante Jeane Aguiar, 32, vizinha de Evangelista.
O motorista envolvido no acidente que vitimou Evangelista não deve sofrer com sanções de trânsito, já que nenhum agente do órgão ou radar de velocidade registrou o momento da batida, segundo o superintendente da Transalvador, Fabrizzio Muller. Ele deve ser punido apenas pela parte criminal. “Só um laudo da perícia pode dizer se o condutor estava acima da velocidade, mas o que sabemos é que alguns agentes verificaram marcas de freios na pista”, afirma.
Para o advogado e professor de Direito Milton Vasconcellos, existem duas possibilidades de penalização para o condutor. Se a polícia entender que houve uma conduta dolosa, quando há intenção de matar, o motorista poderá responder por homicídio. A pena se agrava ainda mais por causa da idade da vítima: “Por ter sido praticado contra pessoa maior de 60 anos implicará em circunstância agravante, que é aumento de pena”, explicou Milton. No entanto, se a polícia entender que a conduta do motorista foi culposa (sem intenção de matar), ele deve responder pelo crime de homicídio culposo no trânsito. “Além do homicídio, ele também pode responder por ter evadido do local sem prestar socorro.”