Meu pai tinha uma amizade fraterna e bonita com Jorge e guardo isso na memória até hoje Emília Ribeiro
Quando o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) se foi, seu grande amigo, o escritor itaparicano João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), declarou que tinha ficado órfão. É que o romancista o ensinou que “a amizade é o sal da vida”. E é justamente sobre esse amor genuíno entre os dois grandes nomes da literatura nacional que a Flipelô - Festa Literária Internacional do Pelourinho vai se debruçar este ano.
Realizada pela Fundação Casa de Jorge Amado (FCJA), a segunda edição da festa acontece de 8 a 12 de agosto, no Pelourinho, e fará uma grande homenagem a João Ubaldo. Também reverenciará Zélia Gattai (19162008) e Myriam Fraga (19372016), duas das mais relevantes personalidades culturais diretamente ligadas à trajetória de Jorge.
Com 62 horas de programação gratuita e mais de 120 atrações nos cinco dias de evento, a Flipelô deve receber cerca de 50 mil pessoas, que transitarão em 13 espaços do Centro Histórico.
São mais de 100 convidados locais e 45 nacionais. “Priorizei autores do Norte do país. A ideia é mostrar um pouco do que está acontecendo na literatura nacional para além do eixo Rio-São Paulo”, destacou um dos curadores da Flipelô, o poeta José Inácio Vieira de Melo , durante lançamento oficial do evento, realizado ontem no Hotel Pestana Convento do Carmo.
Entre os autores locais estão Mabel Velloso, Paloma Amado, Lilia Gramacho, Florisvaldo Mattos, Lívia Natália e Ruy Espinheira Filho, e artistas como Jackson Costa, Lazzo Matumbi, Juliana Ribeiro, Moraes Moreira e Márcia Short. Entre os nacionais estão Daniel Munduruku (PA), Marcelino Freire (PE), Djamila Ribeiro (SP) e Salgado Maranhão (MA).
Nesta edição são apenas dois autores internacionais, ambos africanos: Gociante Patissa, de Angola, que estará na mesa Com os Pés na África (dia 10, 20h), no Sesc-Senac; e Rutendo Tavengerwei, do Zimbábue, que será recebida pela historiadora baiana Luiza Reis (dia 9, 18h), no mesmo local.
A mesa de abertura, que terá como tema Escravidão e Liberdade, reunirá a antropóloga paulista Lilia Schwarcz e os historiadores baianos João José Reis e Walmyra Albuquerque. O encontro será no dia 8, às 18h, no Teatro Sesc-Senac. Em seguida, às 20h, acontece o concerto afro-barroco Do Jeito que o Rei Mandou, com Mateus Aleluia e Bonde Musical, no Largo do Pelourinho.
“Jorge Amado dizia que a maior riqueza da Bahia é essa mistura e essa diversidade. Em Salvador e em Cachoeira, as pessoas dormem com os atabaques dos terreiros e acordam com os sinos das igrejas e dos cantos gregorianos”, explicou o jornalista e gerente de Conteúdo e Criação da TV Bahia, Sérgio Siqueira, que assina a direção artística do espetáculo.
Nos dias seguintes, a programação se desdobra em mesas, bate-papos sobre os mais variados tipos de literatura, lançamentos de livros, saraus, slam, programação infantil com contação de história e diversas atividades lúdicas.
Segundo Ângela Fraga, diretora da FCJA, a festa busca promover uma verdadeira ocupação cultural no Centro Histórico. “Num momento em que enfrentamos tantas adversidades, a Flipelô traz representatividade e festeja não só os livros e a literatura, como a amizade fraterna entre Jorge e João, e nos leva novamente para o Pelourinho, local tão importante para Jorge. A Flipelô é a prova de que a nossa sociedade gosta e clama por literatura”, afirmou.
Emília Ribeiro, filha de João Ubaldo Ribeiro, se emocionou ao falar sobre a amizade entre o pai e Jorge. “Quando Jorge faleceu, em 2001, meu pai disse que tinha ficado órfão três vezes: uma quando Glauber Rocha morreu; a segunda, quando meu avô se foi e a terceira com Jorge. É uma imensa felicidade ter meu pai como homenageado. Meu pai tinha uma amizade fraterna e bonita com Jorge e guardo isso na memória até hoje. Espero que a gente vivencie essa festa literária e se deixe envolver por esse amor proporcionado pela literatura, amor fraterno que meu pai e Jorge tinham um pelo outro”, afirmou.
Também para celebrar a amizade e os encontros da vida, a escritora Paloma Amado, filha de Zélia Gattai e Jorge Amado, participará do bate-papo Comendo Palavras, na sexta (10), às 19h, com Mabel Velloso e a cozinheira Dadá. No mesmo dia, a obra de João Ubaldo será discutida no Com a Palavra o Escritor, às 16h, no Museu Eugênio Teixeira Leal, com os poetas e acadêmicos Ruy Espinheira e Florisvaldo Mattos, mediados pela escritora Antônia Herrera.
Durante o lançamento, o secretário de Cultura de Salvador, Claudio Tinoco, lembrou que 2017 foi o ano de colocar em prática o projeto antigo. “Já este ano é sinônimo de consolidação e expansão. O Pelourinho vai estar cheio. Não tenho dúvida que, tão lo-