Acabou a espera
Eles apareceram sem fazer alarde algum em 2002, numa madrugada de domingo para segunda na Globo, com a exibição do DVD que lançariam dias depois. Pouco falaram com a imprensa e nunca fizeram sequer um show “oficial” no Brasil.
Mesmo com discrição (ou, talvez, exatamente por causa disso), transformaram-se num dos últimos fenômenos de vendas da indústria fonográfica brasileira, com mais de três milhões de CDs vendidos no mundo.
Agora, quase 16 anos depois de aparecerem pela primeira vez e com o lançamento de um segundo álbum no ano passado, os Tribalistas farão sua primeira turnê. E Salvador deu a sorte de ser a primeira anfitriã de Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes, que se apresentam amanhã na Arena Fonte Nova.
“Não foi exatamente uma escolha nossa começar por Salvador, mas uma escolha da produção, por uma questão logística. Mas, simbolicamente, é importante começar a turnê em Salvador”, comemora Arnaldo. Daqui, seguem para o Rio e, depois, mais sete capitais.
Salvador tem significado especial para o trio, afinal foi aqui que o projeto teve início. Na época, Arnaldo estava gravando seu sexto álbum solo, Paradeiro, com produção de Brown. Marisa foi convidada para participar da faixa-título do álbum.
Mas, por que demoraram tanto para fazer shows, mesmo com tanto sucesso, com um repertório tão vasto e com tantos pedidos do público? “O desejo de fazer show sempre houve, mas, às vezes, as circunstâncias falam mais alto. Nós somos artistas independentes e nossas carreiras individuais demandam muito. Além disso, naquela época, eu tinha acabado de ter neném”, justifica Marisa.
Mas a cantora diz que a longa espera vai valer a pena: “Estamos preparando o show há meses e trabalhamos muito o aspecto visual. Temos uma equipe bem maior que a do disco. Nos dedicamos muito à pré-produção, à cenografia...”.
As poucas aparições em público, a inexistência de shows (ao menos até aqui) e as raras entrevistas podem ser interpretadas por uns (incluindo este repórter) como aquele caso clássico em que o antimarketing funciona como um ótimo marketing. Mas eles garantem que não é o caso: “Tudo nosso é muito espontâneo, sem planejamento”, assegura Arnaldo.
Marisa é enfática ao renegar o rótulo “cult” da banda, sugerido pelo repórter: “Não, não somos cult! O cult é elitista”. Brown prefere filosofar: “Somos tribalistas; não somos anarquistas. Somos populares na ação e cada um escolhe como se manifestar. A coesão é associada ao fato de servir música. Não há planejamento e é tudo orgânico, como os instrumentos que levamos para o palco”.