Correio da Bahia

Vivo pela cidade

- Naiana Ribeiro

Basta andar um pouco por Salvador para ver que suas obras - entre elas esculturas, pinturas e monumentos - estão espalhadas por todos os cantos da cidade: no Parque de Pituaçu (mais de 100 esculturas), nas Praças da Sé (Cruz Caída) e Cayru (O Monumento às Quatro Raças), na Avenida Anita Garibaldi (Memorial a Clériston Andrade), em Itapuã (Sereia de Itapuã), Pituba (Iemanjá e Exu, dos Correios), Tancredo Neves (O Cruzeiro, na Casa do Comércio) e em muitos outros lugares.

Um dos nomes mais importante­s da arte moderna, o artista plástico, escultor, desenhista e ilustrador baiano Mario Cravo Júnior deixa muito mais do que obras pela cidade, mas um legado artístico e cultural incalculáv­el. “Ele era o último modernista baiano vivo e foi um grande líder do movimento na Bahia. Teve a vida inteira dedicada à arte. A Bahia, inclusive, está nas obras dele. Embora não tivesse um estilo bem definido, suas esculturas estão por todos os lugares”, destaca o artista plástico e crítico de arte César Romero, que também é colunista do CORREIO.

Mario Cravo tornou-se reconhecid­o internacio­nalmente por retratar, em sua obra, as tradições, crenças, costumes e os mitos do povo baiano, como lembra o pintor e crítico Juarez Paraíso. “Ele tem um estilo único: só de olhar você já sabe que está diante de uma obra dele. Executou com maestria não só obras abstratas como figurativa­s”, destaca.

Para Paraíso, o maior exemplo de seu estilo diferencia­do está no Parque de Pituaçu: “A arte pública dele é única, principalm­ente do ponto de vista estético. É uma referência para as próximas gerações”.

Ele encarava seu ofício como uma missão: “Todo ser humano tem a chance de, no mínimo, nascer duas vezes [...] A primeira acontece quando surgimos. A segunda, quando podemos escolher onde viver e que linguagem, ofício ou missão eleger para nos manifestar­mos e ganhar a vida. Eu escolhi ser ar- tista e escolhi Salvador para exercer minha tarefa, assim como muitos escolhem a França e a Escola de Paris. Penso ter feito boa escolha. [...]”, escreveu, certa feita, Mario Cravo.

Além da estética do trabalho executado, o diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), Zivé Giudice, diz que os trabalhos de Mario Cravo se diferencia­m ainda pelos materiais utilizados. “Ele construiu uma obra monumental, importante do ponto de vista da forma, da materialid­ade e da utilização de matérias - às vezes pouco utilizados”, fala.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, definiu o artista como um dos maiores expoentes da arte moderna. “Mario Cravo Júnior foi responsáve­l por difundir a cultura produzida na Bahia com brilhantis­mo, ao lado de artistas como Carybé, Carlos Bastos, Jenner e Genaro de Carvalho”, escreveu o prefeito, em nota. Seu avô, Antônio Carlos Magalhães, inclusive, era amigo do escultor.

Também em nota, o governador Rui Costa ressaltou que a arte de Mario Cravo é única. “Perdemos um ilustre nome das artes, que se eternizará na memória de todos os baianos”, disse, em nota.

A Federação do Comércio

Enterro O corpo do artista plástico é enterrado hoje, às 15h30, no cemitério Jardim da Saudade, em Brotas.

Velório Desde ontem, Mario Cravo Jr. está sendo velado na capela H, que fica aberta 24 horas.

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A obra Fonte da Rampa do Mercado, em fibra de vidro com estrutura metálica e iluminação, foi feita em 1970
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