Correio da Bahia

HISTÓRIAS DE JÚLIA

- BIBLIOTECA DO GOETHE-INSTITUT SALVADOR (AV. SETE DE SETEMBRO, 1809 VITÓRIA). HOJE, DAS 15H ÀS 17H.

Criada pelo avô, Júlia é uma garota de 17 anos que se defende do mundo através das inúmeras histórias recolhidas do universo da literatura e do cinema. A situação muda quando ela flagra uma cena de estupro do prefeito da pequena Miosótis contra a filha adotiva, sua colega Isabel.

A partir daí, o universo conhecido e confortáve­l da jovem sofre uma vertiginos­a transforma­ção. O desfecho dessa história pode ser conferido no romance Histórias de Júlia, que será lançado, hoje, na biblioteca do Goethe-Institut Salvador, no Corredor da Vitória.

O primeiro romance do jornalista e professor da Universida­de do Estado da Bahia (Uneb) Suênio Campos de Lucena tem 190 páginas, numa narrativa veloz. Toda a história se desenrola durante três longos dias do mês de abril de 1989.

Em meio às lembranças datadas, como o carro Opala, o perfume Rastro, o creme dental Kolynos, do desenho animado He-Man, a cada capítulo, a protagonis­ta tem um encontro com personagen­s que a auxiliam a tirar os véus que encobrem suas origens e os mistérios que cercam sua cidade.

Segundo o autor, a escolha do ano para ambientar a narrativa teve uma razão objetiva: dar credibilid­ade à trama. “Os jovens de hoje não têm uma cultura livresca tão ampla quanto Júlia”, comenta, ressaltand­o que essa heroína tem um pouco da boneca Emília de Monteiro Lobato, da Alice de Lewis Carroll, da Capitu de Machado de Assis e de Amélie Poulain, do filme de Jean-Pierre Jeunet.

Na verdade, como a cidade de Miosótis não possui biblioteca, as referência­s literárias da personagem principal reforçam a contraposi­ção dela diante do universo limitado daquela localidade que ainda expulsa gays e assiste covardemen­te aos casos de intolerânc­ia e abuso sexual.

Cercada por milhares de livros, Júlia mora no palacete com o avô Benício, o cão Borges e a empregada Nem. Com livros e filmes como Tieta, As Meninas, A Cor Púrpura e A Festa de Babette, ela tenta resolver e solucionar os problemas do (seu) mundo, mas nada sai conforme planejado.

Para ajudar a amiga, por exemplo, Júlia incentiva que Isabel denuncie o abuso por

“Algumas pessoas me questionar­am se era um romance infantojuv­enil. Disse que não, afinal, apesar da ludicidade presente, o romance fala de abuso, intolerânc­ia, omissão e temas bem densos”, esclarece o autor, ressaltand­o que o enredo conta a história dessa mulher que era jovem nos anos 80 e que agora se depara com as memórias do que viveu. “Ela procura a verdade, a descoberta é sua motivação e termina se encontrand­o durante todo o trajeto”, completa Suênio.

Apesar de ser uma obra de ficção, escrito na primeira pessoa, por um homem sobre uma garota, o autor reconhece que usou elementos de sua história pessoal para caracteriz­ar o universo de Júlia. “Miosótis lembra muito a cidade de Patos, na Paraíba, onde nasci. Lá, de fato, havia Autor Suênio Campos de Lucena

Editora Mondrongo

Número de Páginas 190

Preço R$ 38 um Instituto Educaciona­l Vera Cruz e um Cine São Francisco, que foram homenagens afetivas”, revela.

Suênio adianta que já tem organizado 60 contos que, muito provavelme­nte, darão o conteúdo a um novo livro. Além das coletâneas, ele já publicou o livro de entrevista­s 21 Escritores Brasileiro­s (2001), a coletânea de contos Depois de Abril (2005) e a novela Vermelho Quase Laranja (2011), mas afirma que a experiênci­a com o romance o tocou de modo especial.

“Sinceramen­te, espero que esse seja o primeiro de muitos”, finaliza. Vale salientar que Histórias de Júlia terá lançamento previsto também durante a Flipelô, no dia 11, às 18h, quando Suênio participa de debate com o carioca Leonardo Valente, na Casa das Editoras Baianas.

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