HISTÓRIAS DE JÚLIA
Criada pelo avô, Júlia é uma garota de 17 anos que se defende do mundo através das inúmeras histórias recolhidas do universo da literatura e do cinema. A situação muda quando ela flagra uma cena de estupro do prefeito da pequena Miosótis contra a filha adotiva, sua colega Isabel.
A partir daí, o universo conhecido e confortável da jovem sofre uma vertiginosa transformação. O desfecho dessa história pode ser conferido no romance Histórias de Júlia, que será lançado, hoje, na biblioteca do Goethe-Institut Salvador, no Corredor da Vitória.
O primeiro romance do jornalista e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Suênio Campos de Lucena tem 190 páginas, numa narrativa veloz. Toda a história se desenrola durante três longos dias do mês de abril de 1989.
Em meio às lembranças datadas, como o carro Opala, o perfume Rastro, o creme dental Kolynos, do desenho animado He-Man, a cada capítulo, a protagonista tem um encontro com personagens que a auxiliam a tirar os véus que encobrem suas origens e os mistérios que cercam sua cidade.
Segundo o autor, a escolha do ano para ambientar a narrativa teve uma razão objetiva: dar credibilidade à trama. “Os jovens de hoje não têm uma cultura livresca tão ampla quanto Júlia”, comenta, ressaltando que essa heroína tem um pouco da boneca Emília de Monteiro Lobato, da Alice de Lewis Carroll, da Capitu de Machado de Assis e de Amélie Poulain, do filme de Jean-Pierre Jeunet.
Na verdade, como a cidade de Miosótis não possui biblioteca, as referências literárias da personagem principal reforçam a contraposição dela diante do universo limitado daquela localidade que ainda expulsa gays e assiste covardemente aos casos de intolerância e abuso sexual.
Cercada por milhares de livros, Júlia mora no palacete com o avô Benício, o cão Borges e a empregada Nem. Com livros e filmes como Tieta, As Meninas, A Cor Púrpura e A Festa de Babette, ela tenta resolver e solucionar os problemas do (seu) mundo, mas nada sai conforme planejado.
Para ajudar a amiga, por exemplo, Júlia incentiva que Isabel denuncie o abuso por
“Algumas pessoas me questionaram se era um romance infantojuvenil. Disse que não, afinal, apesar da ludicidade presente, o romance fala de abuso, intolerância, omissão e temas bem densos”, esclarece o autor, ressaltando que o enredo conta a história dessa mulher que era jovem nos anos 80 e que agora se depara com as memórias do que viveu. “Ela procura a verdade, a descoberta é sua motivação e termina se encontrando durante todo o trajeto”, completa Suênio.
Apesar de ser uma obra de ficção, escrito na primeira pessoa, por um homem sobre uma garota, o autor reconhece que usou elementos de sua história pessoal para caracterizar o universo de Júlia. “Miosótis lembra muito a cidade de Patos, na Paraíba, onde nasci. Lá, de fato, havia Autor Suênio Campos de Lucena
Editora Mondrongo
Número de Páginas 190
Preço R$ 38 um Instituto Educacional Vera Cruz e um Cine São Francisco, que foram homenagens afetivas”, revela.
Suênio adianta que já tem organizado 60 contos que, muito provavelmente, darão o conteúdo a um novo livro. Além das coletâneas, ele já publicou o livro de entrevistas 21 Escritores Brasileiros (2001), a coletânea de contos Depois de Abril (2005) e a novela Vermelho Quase Laranja (2011), mas afirma que a experiência com o romance o tocou de modo especial.
“Sinceramente, espero que esse seja o primeiro de muitos”, finaliza. Vale salientar que Histórias de Júlia terá lançamento previsto também durante a Flipelô, no dia 11, às 18h, quando Suênio participa de debate com o carioca Leonardo Valente, na Casa das Editoras Baianas.