Feminicídio
O clima que tomou conta das ruas de Itapuã, na manhã deste domingo, era de indignação. Familiares e amigos da recepcionista Isabel Cristina Moura Bramont, 35, assassinada em 22 de junho deste ano, vestiram branco e rosa (cor favorita da vítima) para protestar, pedir justiça e a manutenção da prisão de seu assassino, Jairo Fernandes, ex-marido dela.
Isabel foi uma das quatro mulheres mortas em Salvador pelos próprios companheiros só no primeiro semestre de 2018, segundo dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). “Nós viemos aqui para chamar a atenção da Justiça e da comunidade para que esse crime não fique impune. Nós não vamos deixar que nossa Bel seja só mais uma nas estatísticas de feminicídio”, gritou o rodoviário Louralbert Bramont, 40, organizador da caminhada.
Os manifestantes percorreram lugares marcantes para a história de Isabel. O cortejo saiu do Templo Batista de Itapuã, passou pela frente da casa de número 108 da Rua Humberto Campos, onde o casal teria se conhecido; seguiu até a UPA Hélio Machado, onde o agressor a deixou sem vida, e prosseguiu pela clínica de odontologia em que a vítima trabalhava. Uma via crucis para marcar que casos como o de Isabel ainda são recorrentes. Segundo a SSP-BA, houve queda de 55,5% no número de casos de feminicídio em Salvador e na Região Metropolitana. Nove casos foram registrados no primeiro semestre de 2017, contra os quatro ocorridos no mesmo período deste ano.
A salgadeira Isabel Bramont, tia da vítima, disse ter acompanhado a história do casal desde o princípio. “Ela morava comigo quando conheceu Jairo, ela tinha só 17 anos. Quando completou três meses de namoro, ela engravidou da primeira filha”, conta. A familiar ainda relata que, no começo, Jairo se mostrou ser uma pessoa amigável, mas tudo mudou radicalmente após o nascimento da primeira filha, Geovana Bramont, 17.
“Depois, ele a fez abortar duas crianças numa clínica clandestina. Em uma delas, Isabel ficou entre a vida e a morte. Inclusive, a filha mais nova do casal, Isabella, hoje com 15 anos, ele tentou fazê-la abortar. A gente que não deixou”, revela. “A relação dele com a menina sempre foi difícil porque, durante as brigas, ela já apanhou tentando defender a mãe”.
A lista de agressões aumenta à medida que os familiares vão se pronunciando. As filhas do casal, que estavam na linha de frente do protesto, relataram que a mãe era uma verdadeira prisioneira de seu pai. “Ela não podia fazer faculdade, ou mesmo trabalhar porque ele a perseguia”, lembra Isabella. A filha mais nova ainda afirma que o pai proibia Isabel de ter qualquer tipo de rede social ou mesmo ter um celular. “Sempre que ela queria tirar alguma foto ele perguntava: ‘foto pra que?
Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) Em Salvador, são duas: uma em Brotas (3116-7000), outra em Periperi (3117-8217).
Disque Denúncia Serviços de denúncia que funcionam 24 horas por dia. As mulheres são atendidas no Disque 180.
Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres. Telefone: 3103-6407/6406/6424.
Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) Atendimento especializado para orientação jurídica. Telefone: 3117-6935.