Onda de calor pode ser irreversível
A Califórnia, nos Estados Unidos, vive o maior incêndio de sua história, anunciaram ontem as autoridades locais. O estado já contabiliza uma área atingida equivalente à cidade do Rio de Janeiro ou a de Los Angeles. E, segundo as informações divulgadas, a expectativa é de que o fogo continue na região até o fim do mês.
O recorde se deu com a junção de dois incêndios, um chamado de River e o outro de Ranch, o que foi batizado pelas autoridades de Mendocino Complex, já que fica próximo à Floresta Nacional de Mendocino, a cerca de 200 km ao norte de San Francisco. Segundo o Departamento Florestal e de Incêndios da Califórnia (Calfire), as chamas já devoraram uma área de 1.148,5 km² e apenas 30% desse total já foi contido.
“Um sistema de alta pressão trouxe um clima mais quente, seco e fortes ventos à região. As equipes de bombeiros tentarão aproveitar a queda da temperatura esta noite para aumentar o combate e manter as atuais linhas de contenção”, informou o Calfire em seu último boletim, anteontem.
Os números dos dois incêndios isolados também alarmam. O River teve apenas 58% de seu total controlado, já o Ranch teve míseros 21%. E as chamas seguem se expandindo tanto para o norte, quanto para o sul do estado.
O objetivo dos 3.900 bombeiros, que estão combatendo o fogo com auxílio de helicópteros e aviões, incluindo dois DC-10 e um 747 que lançam água sobre o fogo, é proteger as comunidades da região. Até o momento,
9.300 prédios estão sob risco, 75 residências foram destruídas e a maior parte da população já foi retirada do local.
Em Sacramento, outra região também no norte do estado, o incêndio Carr já consumiu 660 km², o equivalente a cidade de Ribeirão Preto, deixando sete mortos, além de arrasar 1.600 prédios. Outro incêndio, o Ferguson, levou ao fechamento do turístico parque Yosemite e tem apenas 38% das chamas sob controle. Ao todo, o estado conta com 14 mil bombeiros lutando para combater 16 focos de incêndio que já desimaram 2.370 km², uma área semelhante à Baixada Santista.
A onda de calor que atinge o Hemisfério Norte também está causando incêndios em vários países da Europa. Atualmente, Portugal vive uma das piores realidades. O governo português precisou transferir o comando dos serviços de emergência que combatem o incêndio de Algarve – que já deixou 24 pessoas feridas – para a esfera federal, quando as chamas seguiram em direção ao sul, onde estão as cidades turísticas litorâneas populares.
O desastre, que começou nas florestas de eucaliptos e pinheiros nas colinas, já dura cinco dias. A fumaça está engrossando na costa e as chamas se aproximando da cidade de Silves, onde moradores disseram que estava “nevando cinza”.
“Está nevando cinzas e o céu está amarelado. A cena parece saída direto de um filme de ficção científica, porque esta cor não é normal”, disse Nuno Sarsfield Magalhães, 43 anos, dono de uma empresa de agronegócio em Silves.
Até a tarde de ontem, mais cem bombeiros haviam sido convocados, elevando o total para 1.320, além de 420 caminhões e 17 aeronaves envolvidos na operação. Não houve mortes registradas, já que os vilarejos no caminho foram esvaziados pelas autoridades. A onda de calor no Japão já matou 138 pessoas e afetou a vida de mais de 70 mil que foram levadas a hospitais com sintomas de insolação. A Agência de Gestão de Incêndios e Desastres informou que o número de vítimas é o maior registrado em um único ano.
Desde abril, quando as temperaturas começaram a subir no país, passando 40°C, 71.266 pessoas já foram hospitalizadas. Segundo a agência, só até o último domingo, foram 13 mil pessoas encaminhadas aos hospitais por insolação, das quais 13 morreram e mais de 4,3 mil ficaram internadas.
O país já sente os efeitos do que deve ser o futuro do planeta. Uma pesquisa da Universidade Nacional da Austrália, divulgada ontem, avaliou que a Terra corre o risco de cair em um estado estufa irreversível devido ao aquecimento global, o que tornaria inabitáveis vários lugares do planeta. Isso pode resultar em temperaturas a meio-cinco graus acima da era pré-industrial e o nível do mar pode subir entre 10 e 60 metros. Hoje, a temperatura média global é pouco mais de um grau superior a da era pré-industrial e aumenta 0,17 graus a cada década.