Correio da Bahia

Mãe chama policiais de covardes

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Para Rute, o indiciamen­to de 17 policiais não traz qualquer conforto ou sentimento de alívio. Em 2016, 23 PMs foram denunciado­s pela Polícia Civil, mas o Ministério Público pediu novas investigaç­ões. Em janeiro de 2017, o MP prorrogou o prazo para entrega do inquérito para abril daquele ano, mas não obteve retorno da polícia.

“A morte do meu filho não é novidade. Eu sempre soube, desde o dia seguinte que eu senti. Ele não ficaria um dia sem me ligar. A bomba foi saber que foram tantos os covardes que sacrificar­am meu filho”, disse a comerciant­e, em entrevista ao CORREIO, na tarde de ontem. “Foram eles que fizeram o holocausto com Davi”, completa.

“Ele saiu com uma vizinha, uma idosa. Ela viu tudo. Chamaram o nome de alguém, eles respondera­m que a pessoa não era Davi, mas eles levaram mesmo assim. Meu filho tinha parado para ver o que estava acontecend­o, ver a operação, como qualquer criança curiosa. Depois, ameaçaram a moça, a testemunha, e tivemos que pedir proteção para ela”, conta. Embora tenha recebido diversas propostas de organizaçõ­es para deixar Salvador, por uma questão de segurança, Rute Fiuza diz que nunca teve medo. “Atualmente, eu não sei de ninguém ligado ao caso que vem sofrendo ameaças. Espero que não. Eu e minhas filhas vivemos tranquilam­ente, não temos medo de nada. Se qualquer ameaça acontecer, eu abro a boca. Jamais seria ameaçada e guardaria isso. Eu reúno toda imprensa e busco ajuda”, relata ela, que não mora mais em São Cristóvão.

Para a mãe de Davi, a operação de treinament­o que era realizada pelos PMs no dia mais triste de sua vida, como ela mesma define, diz muito sobre a maneira como a Polícia Militar realiza suas operações. “É muito claro. Eu acredito que tenha sido algo como: ‘estão vendo aqui esse menino, vamos pegar ele. Observem, é assim que a gente mata, é assim que a gente esquarteja, é assim que a gente dá fim’. É essa a prática dele, não há outra”, diz, em referência à motivação do crime.

Ainda segundo ela, os policiais que pegaram o adolescent­e, embora não estivessem fardados, estavam a bordo de viaturas padronizad­as. “Eu tenho cópias dos depoimento­s. Foram de oito a dez viaturas, fora os carros sem padronizaç­ão. Mas, ainda assim, eu cheguei a acreditar que pegaram ele por engano”. Rute Fiuza já viveu a angustia de ter sua esperança posta à prova algumas vezes, ao longo desses quatro anos. A comerciant­e contou à reportagem que nunca deixou de acreditar que ainda vai encontrar o corpo de Davi.

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