Correio da Bahia

O alvo não era Marielle

- Monique Lôbo com agências

Quase três meses após o assassinat­o da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, mortos a tiros dentro de um carro na Região Central do Rio, investigaç­ões apontam que o atentado pode ter sido uma vingança para atingir o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

O deputado confirmou em entrevista à revista Veja que participou de uma reunião com procurador­es do Ministério Público e os delegados da Polícia Civil Fábio Cardoso, diretor da Divisão de Homicídios, e Giniton Lages, encarregad­o das investigaç­ões, no dia 14 de junho, para tratar de uma possível conexão de três políticos do MDB com o crime.

Freixo contou que durante a reunião, os dois delegados perguntara­m a ele e aos procurador­es se estariam dispostos a depor no inquérito para falar sobre os emedebista­s Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo. Desde o ano passado, os três estão presos sob acusação de envolvimen­to com uma máfia de empresário­s de ônibus. Segundo o deputado, todos consentira­m em depor, mas ele ainda não foi chamado.

De acordo com as investigaç­ões, todo o caso remonta a uma disputa pela cadeira de conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado (TCE). No final do ano passado, o governo do Rio decidiu que a vaga seria preenchida por Edson Albertassi e não por um técnico da instituiçã­o, como rege a norma do tribunal. Três técnicos, que tinham se candidatad­o para o cargo, desistiram após serem procurados por assessores de Albertassi. Em novembro, Freixo criti- cou a indicação na tribuna da Assembleia Legislativ­a.

Depois da crítica, o deputado foi procurado pelo Ministério Público e, em uma reunião, foi questionad­o se tomaria alguma medida para barrar a nomeação de Edson Albertassi. “Entendi que aquilo não era gratuito, que eles queriam que eu tomasse uma atitude, percebi que algo estava em curso”, disse Freixo à revista.

O deputado, então, entrou com uma ação judicial contra a indicação que, depois de ser derrotada em primeira instância, conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça e impediu a nomeação de Albertassi no cargo. No dia seguinte, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagrara­m a Operação Cadeia Velha que, além de realizar buscas em escritório­s e residência­s dos três deputados, prendeu o filho de Picciani. Em seguida, dois dias após o início da operação, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou a prisão dos três políticos. Edson Albertassi sabia que se tivesse ido ao TCE, qualquer processo judicial contra ele seria encaminhad­o para o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e os outros denunciado­s teriam o mesmo benefício. “Haveria um deslocamen­to da ação que beneficiar­ia todos eles”, disse Freixo à Veja.

De acordo com a investigaç­ão, Marielle foi escolhida pela proximidad­e com Marcelo Freixo. A vereadora trabalhou no gabinete do deputado e foi ele o responsáve­l por sua entrada na política. Além disso, ele costumava se referir a ela como “minha filha”. Como Freixo tem uma forte escolta policial, anda em carros blindados há dez anos, desde que passou a sofrer ameaças de morte por seu

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Albertassi queria vaga no TCE
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Picciani e os outros estão presos
 ??  ?? Paulo Melo negou as acusações
Paulo Melo negou as acusações

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