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“Eu já escrevia há algum tempo sobre o tema, mas entendi que o contato direto das rodas pode ser, também, muito transformador. Não é um hábito muito comum aos homens conversar sobre esses temas. Então as rodas quebram um pouco a barreira”, conta Caio. A maior dificuldade, acredita o geógrafo, é fazer os homens entenderem que essas construções de masculinidade “não são positivas para eles e que há uma real necessidade de mudança”.
“Demonstrar fraquezas é como ser enxergado como menos homem. Há um grande desestímulo para isso entre os homens. Eu sempre chorei bem pouco na minha vida e boa parte era por vergonha, por achar que meus motivos não eram relevantes o suficiente para um homem chorar”, revela Caio, que se entende como um homem negro, hétero e cis (pessoa cujo gênero é o mesmo que o designado no nascimento).
Por isso, refletir sobre si mesmo é urgente, defende Caio. Principalmente porque “ser homem, hoje em dia, diz respeito a qualquer pessoa que esteja sob o julgo das construções de masculinidade, seja branco, preto, gay, hétero, cis ou trans”. “Machismos são práticas realizadas por homens a partir de uma masculinidade tóxica. Práticas realizadas contra outros homens, contra si, mas principalmente contra mulheres”, destaca.
Acontece que por mais desconstruído que tente ser, Caio ainda se vê em atitudes machistas. “Às vezes me pego explicando coisas para as mulheres mesmo que não haja necessidade de explicação, me colocando num patamar professoral”, reconhece. Então, ele reforça que é fundamental sair da zona de conforto e julgar comportamentos tidos como normais. “Precisamos ter escuta ativa, afetividade, rever comportamentos, aceitar a fragilidade e, principalmente, se responsabilizar pela mudança”, defende.
Casado com um homem há nove anos, o publicitário e relações públicas baiano Guilherme Miranda, 30, destaca que quando há uma supervalorização do macho viril há, por consequência, a desvalorização de tudo aquilo “que não é masculino”. “Os homossexuais, por exemplo, são muito atacados”, reforça Guilherme, ao mesmo tempo em que reconhece que, “infelizmente o machismo também está presente entre os homens gays”.
“Há uma valorização entre os próprios homens gays da masculinidade. Então, o comportamento afeminado, que remete à fêmea, à mulher, é muitas vezes desvalorizado e vira motivo de chacota”, ressalta. “Claro que há um movimento no sentido oposto que é muito forte, de ‘quanto mais afemidado melhor”, Caio César Como as Masculinidades podem Dialogar? Acesse: www.bit.ly/ caiocesar
Ilha de Barbados Macho: ser ou não ser? Acesse: www.bit.ly/ ilhabarbados
Manual do Homem Moderno O que é ser um Homem de Verdade? Acesse: www.bit.ly/ manualhomem
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Ao observar que os homens restringiam seus espaços de socialização a “babas”, churrasco e bar, o professor de francês Marcus Boaventura, 26, decidiu criar um “movimento de transformação dos homens” chamado O Macho da Relação. Inspirado nas mulheres que debatem intimidades, problemas e anseios, o grupo estreou anteontem as rodas de conversas que vão acontecer no Ohana - Espaço Colaborativo, que fica no Shopping Rio Vermelho.
“A maior dificuldade é, sem dúvida, romper a barrreira de que homem não discute determinados assuntos. A intenção é ter liberdade para quebrar tabus e mostrar que não estamos sozinhos nas angústias pelas quais passamos”, destaca o baiano Marcus sobre o grupo cuja proposta é “desconstruir a masculinidade tóxica com discussão”.
Entender que “não é não”, deixar de reproduzir piadas machistas e misóginas e parar de “ajudar” e, sim, fazer as tarefas domésticas são algumas das dicas de Marcus para a construção de uma nova masculinidade. “Não suporto mais ver histórias de homens que matam mulheres por motivos banais”, desabafa o professor.
No mesmo caminho, Luciano Andolini, do Papo de Homem, propõe o diálogo como solução possível. “Não é só sair com homens às quartas para jogar bola, mas começar a expor e criar pontes de diálogo”, pondera. “É o exercício de baixar a cabeça, ouvir, pedir desculpa, saber que vai errar. Exercício empático e de humildade que é essencial”, garante.
Luciano reforça que só o debate é capaz de potencializar formas saudáveis de exercer a masculinidade. Para isso, é preciso entender que as questões masculinas não são menores. “Não se compara nem de longe todo tipo de opressão que as mulheres têm com as mesmas questões. Mas o mundo emocional e interno é muito vasto. Olhar pra dentro não é mimimi, pelo contrário, é um ato de coragem gigantesco”, convida.