Baile dos Sonhos
Vitória de Lima completou 15 anos no início do mês, mas muito antes disso, aos 13, já pensava em como seria seu baile de debutante. Pesquisou roupa, vestido e penteados ainda que soubesse que a família não teria condições de arcar com os custos do dia de princesa.
O sonho de Vitória, que parecia distante, se realizou ontem, quando a garota e outras 14 adolescentes, todas portadoras de câncer, foram agraciadas com o Baile Sonho de Menina - idealizado pela cerimonialista Rita Toquarto. A festa, realizada no Cerimonial Rainha Leonor, na Pupileira, recebeu cerca de 300 convidados. Cada debutante pôde levar 15 pessoas, entre familiares e amigos.
Vitória, que se locomove com o auxílio de uma cadeira de rodas, estava radiante. “Nenhuma palavra que eu diga vai traduzir o significado desse dia para mim. Meu coração quase sai pela boca porque eu sempre quis muito, mas é tanto dinheiro, né?”, indagou a menina.
Mãe da adolescente, a dona de casa Leidjane de Lima, 44, contou que é como se estivesse completando 15 anos, também. “Era algo que eu não alimentava para não frustrar ela. Nós fomos muito abençoadas e agora é só curtir esse dia, que vai ser lembrado para sempre. Tenho até medo de acordar do sonho”, disse, emocionada.
Emoção, aliás, é a expressão que pode traduzir uma outra debutante. Camila Bessa Alves, que já tem 15 anos. Um mês após completar o tão sonhado 15º aniversário, em março, a menina recebeu a notícia de que realizaria seu sonho de menina.“Eu não acreditei. Sabe sonho? Acho que é um sonho e eu vou acordar nestante”, comentou, aos risos.
Natural de Xique-Xique, no Nordeste do estado, a adolescente faz tratamento no Hospital Aristides Maltez, em Brotas, não escondeu a felicidade por ter andado de limousine. “Onde que eu ia imaginar algo assim? Nunca. Eu tô muito, mas muito emocionada com tudo isso”, completou.
A realização do sonho de Camila, Vitória e das outras meninas é parte de uma iniciativa que a cerimonialista Rita Torquato, que se especializou em bailes de debutantes, teve há cerca de sete anos.
“Eu estava em uma das festas e uma garotinha que trabalhava de flanelinha entrou e ficou enlouquecida. Nunca vou esquecer dela falando: ‘tia, isso aí não é para mim, mas é lindo demais, não é?’, então eu fiquei pensando e, graças aos nossos parceiros, seguimos realizando sonhos de meninas em situação de risco social”, comentou.
O baile, que está na sétima edição, conta com o apoio de 50 parceiros que contribuem tanto doando serviços, quanto produtos. “O mais bacana é que nós não pegamos em dinheiro para nada. E é lindo, é uma realização para mim, também”, contou. Ainda de acordo com a cerimonialista, o evento é programado com seis meses de antecedência.
Antes da festa, as 15 debutantes - acompanhadas de suas mães -, passam a tarde no salão, como toda princesa que se preze, cuidando dos cabelos e maquiagem. As meninas, que também ganharam trajes dignos da realeza, são atendidas pela Santa Casa da Bahia, Grupo de Apoio à Criança com Câncer da Bahia (Gacc-Ba), além dos hospitais Aristides Maltez e Martagão Gesteira.
Faz dois anos que a adolescente Nara Dourado, 14, vive os dias com mais intensidade. A necessidade de aproveitar a vida veio junto com o diagnóstico de leucemia, aos 12 anos. Prestes a completar o
15º aniversário, em 28 de outubro, Nara também teve o sonho de debutante realizado. E como toda princesa tem seu par, Nara e suas companheiras dividiram o príncipe Alessandro Timbó, escolhido de 2018 para daçar a valsa.
Em fase de regressão da doença, a menina era só alegria. “É a realização de um sonho. Acho que uma festa de 15 anos é o sonho de toda menina, não é?”, disse, animada.
Para Camile Santos, que só completa 15 anos em novembro, a realização também veio antecipada. A menina, que se trata há seis meses no Martagão Gesteira, disse que vai ser a primeira da família a festejar o momento. “Uma realização não só para mim, mas para toda a minha família”.