Urbanização e tecnologia reduziram as atividades físicas
cumprem os requisitos mínimos de atividade física.
A Bolívia, o Haiti e o Peru são os países da América Latina e do Caribe com mais de 10 milhões de habitantes que não tinham dados a respeito.
Se ampliarmos o recorte, o resultado continua ruim. A América Latina é a campeã entre as regiões ocidentais que menos fazem atividade física: apenas 16% da população pratica exercícios.
Com o levantamento, a OMS indicou a intenção de estimular os países da América Latina a adotarem políticas de transportes não motorizados, como caminhadas e pedaladas, assim como a participação da população em atividades esportivas durante o tempo livre. “Essas políticas são particularmente importantes em países de urbanização rápida, como o Brasil, a Argentina e a Colômbia”, afirmou o documento de divulgação do estudo.
Em nível global, uma em cada três mulheres e um em cada quatro homens não praticam atividade física suficiente para se manter saudável – equivale a 1,4 bilhão de pessoas. Ou seja, estão sujeitas ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, de diabetes do tipo 2, demência e certos tipos de câncer.
Em 15 anos, o Brasil foi o país que registrou um dos maiores saltos no que se refere ao percentual de população com comportamento físico inadequado, ocupando a quinta posição entre os países com as piores taxas no mundo. O índice brasileiro é quase duas vezes mais elevado que a média mundial. Supera até os EUA, que têm 40% da população adulta sedentária, e o Reino Unido, com 36%.
As taxas mais preocupantes estão em países como Kuwait (67%), Samoa Americana (53,4%), Arábia Saudita (53,1%) e Iraque (52%), com mais de metade dos adultos com uma atividade insuficiente. A surpresa ficou com a China, que alcançou um índice de 14%.
Foram 1,9 milhão de pessoas avaliadas em 168 países. De 68 países que mantinham os dados entre 2001 e 2016, 37 deles registraram alta no índice de pessoas inativas. O aumento foi de mais de 15 pontos percentuais no Brasil, um salto bem acima do incremento de 5 pontos visto nos países ricos. Em 28 países, o problema diminuiu. A Organização Mundial de Saúde considera que um patamar adequado inclui 150 minutos de atividade física moderada por semana ou 75 de uma prática intensa. Isso vai de caminhadas a passos rápidos e nadar até ir ao trabalho de bicicleta ou fazer esportes.
Para Regina Guthold, principal autora do levantamento, o fenômeno no Brasil está relacionado às rápidas mudanças que ocorreram nos últimos 20 anos, com uma maior urbanização, aumento da classe média, ocupações sedentárias e a explosão do uso de tecnologias. Segundo a OMS, telefones e computadores ficaram mais populares e mais baratos nos últimos anos, tendo impacto direto no comportamento das pessoas.
“A rápida urbanização fez com que as pessoas abandonassem lugares onde deveriam se exercitar para trabalhar, especialmente na agricultura, para instalar-se em cidades onde estão desempregadas ou têm empregos na indústria, nas quais fazem movimentos repetitivos”, avaliou Guthold, em entrevista a EFE.
Lafayette Lage, ortopedista brasileiro especialista em medicina esportiva, lembrou que atividade física é importante não só para o aparelho locomotor como também para o cardiovascular. Mas alertou que todos que queiram realizar uma prática esportiva devem ser avaliados por um médico ortopedista ou fisiatra para descartar problemas nos joelhos, quadris, ombros e articulações.
Para a OMS, é necessário que políticas públicas criem oportunidades para que atividades físicas passem a fazer parte da rotina, com acesso a locais seguros. “Isso inclui parques, mas também a possibilidade de ir de bicicleta ao trabalho”, falou Regina. Campanhas para “convidar” as pessoas a serem mais ativas precisam ser realizadas, além de mudanças na estrutura de trabalho.