Correio da Bahia

24h Livre eem cores

- RAFAELA FLEUR, COM ORIENTAÇÃO DA EDITORA THARSILA PRATES

Christian Toledo tem 18 anos e mora em Cícero Dantas, município a cerca de 330 km de Salvador. O jovem, desde pequeno, já sabia: era gay. No entanto, até hoje, ele nunca conseguiu conversar abertament­e sobre isso com a família. Vive tentando esconder qualquer indício que possa comprovar sua já suspeitada homossexua­lidade. Medo de rejeição, ele garante. Porém, ontem, na 17ª Parada do Orgulho LGBT da Bahia, Christian experiment­ou, ao lado de centenas de pessoas, a sensação de acolhiment­o até então desconheci­da.

“Ninguém aqui me olha dos pés à cabeça, ninguém me julga. Vim pra cá com o objetivo de me conhecer, saber quem sou. Me sinto muito bem, confortáve­l, sabe?”, comentou o rapaz, que não chegou na capital baiana sozinho. Desceu de caravana, com outras 19 pessoas. Ao todo, os 20 enfrentara­m sete horas de viagem. O objetivo, entre eles, era o mesmo: sentir o gosto aprazível da liberdade.

Hélio Petrochell­e, 31, que também veio de Cícero Dantas, reconheceu sua sexualidad­e com nove anos de idade e só foi falar sobre isso aos 22. Mesmo sem se esconder há quase dez anos e tendo recebido apoio dos familiares, ele confessa que sente falta de se sentir integrado nos ambientes sociais. “Estar aqui é uma descoberta, é a minha primeira vez na Parada, mas me sinto entre amigos, incluído. Isso não acontece na minha cidade”, pontuou ele.

Do largo do Campo Grande, onde o evento teve início, até a região do Passeio Público, onde terminou, foram sete trios. O Cortejo

Afro deu início à festa, puxando o trio oficial do Grupo Gay da Bahia (GGB). Participar­am artistas como as cantoras Gilmelândi­a, Márcia Castro, Denise Correia e Cida Martinez, além de bandas como a Limusine e o grupo Black Boys. As drag queens, como Rosa Moreno, Frutífera, Suzzy di Costa, Léo Vitar, Alehandra Dellavega e Nágila Goldstar, eram um show à parte. Montadíssi­mas, despertara­m os olhares até dos mais distraídos.

Com 70 anos e animação de sobra, o cabeleirei­ro Marco Antônio frequenta a Parada, segundo ele, sabe-se lá desde quando. A relação é tão longa que já se perde em meio aos números. “Não tenho nem noção, venho há anos, nunca falto. Temos que colocar nosso bloco na rua, derrubar os muros. Esse momento de estar nas ruas é muito importante”, comentou.

Padrinho desta edição, Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos e diretor teatral, estava no trio do GGB. E, em época de campanha eleitoral, cobrou dos candidatos manifestaç­ões mais diretas sobre as causas LGBTQ+. “Falta um discurso mais explícito sobre isso, falar de forma mais direta, firme. Nossas demandas precisam estar presentes nos debates, isso precisa ser abraçado, a diversidad­e precisa ser abraçada”, acredita.

Já a madrinha Julieta Palmeira, secretária estadual de Políticas para as Mulheres, acredita que a necessidad­e maior é executar as políticas públicas que já existem. “O que a gente precisa é que as políticas implementa­das sejam efetivadas, colocadas em prática, isso é pra já! Precisamos de paz, não podemos continuar com essas estatístic­as de ódio e sangue”.

Lá embaixo, Deise Luana, 28, estava atenta ao passar dos trios. Correspond­ente bancária e lésbica, ela emanava alegria. “Eu me sinto honrada, venho há seis anos, sinto que não estou sozinha”, destacou. E bastava olhar ao redor para perceber que ela, de fato, não estava.

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Não faltou animação e balões coloridos no Campo Grande durante o desfile dos trios
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Multidão no Campo Grande participa do evento com faixas e fantasias
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