Correio da Bahia

‘A PM mata e o MP enterra’, diz mãe

- COLABOROU TAILANE MUNIZ

acrescenta que, após envio do inquérito, nada foi requisitad­o”, conclui a nota.

A testemunha citada no processo está num programa de proteção. “Ela vê o momento da abordagem. Ela procura não olhar muito diretament­e. Ela não queria identifica­r rostos e vai na casa de uma vizinha por medo. Em suas declaraçõe­s, ela diz ‘não vi mais’, ‘não quis ver, deixei ele lá falando com eles’. A testemunha está inserida num programa de proteção à testemunha. Não foi ameaçada, mas ela ainda morava lá e por prudência achamos por bem colocá-la no programa. Ela não está mais aqui (em Salvador)”, afirmou a promotora Ana Rita.

No dia em que Davi Fiúza desaparece­u, policiais militares realizaram uma operação do curso de nivelament­o da 49ª CIPM, feita em conjunto com o Peto, tendo sido escolhidas as localidade­s de Vila Verde, onde o adolescent­e morava, Cassange, Planeta dos Macacos, dentre outras, com 165 abordagens, entre veículos e pessoas.

“Nos depoimento­s, eles (policiais) disseram que nunca tinham abordado Davi Fiúza. Inclusive os policiais que foram denunciado­s com base na testemunha e no GPS. Eles negaram tudo”, disse a promotora.

Entre os sete denunciado­s da 49ª CIPM, quatro são do Serviço de Missões Especiais (SME). Alguns policiais ouvidos disseram que os PMs da SME não participar­am da abordagem ao adolescent­e, mas o depoimento de um PM da unidade – uma das seis testemunha­s ouvidas no inquérito – disse o contrário, colocando os PMs da SME na cena do crime.

“É um caso que teve grande repercussã­o no estado. Já tem quatro anos. Só que ainda faltavam algumas diligência­s a serem feitas. O inquérito voltou no final de junho para mim com 11 volumes”, concluiu a promotora, que aguarda o pronunciam­ento da Justiça, que vai decidir se acata ou não a denúncia. Não há previsão para que essa decisão seja divulgada. A comerciant­e Rute Fiúza recebeu com indignação a notícia de que o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) denunciou sete policiais militares pelos crimes de sequestro e cárcere privado de seu filho, o adolescent­e Davi Fiúza.

Para Rute, todos os policiais que participar­am da operação da Polícia Militar - um teste para obtenção do título de soldado -, no bairro onde a família morava na época, tinham que ser denunciado­s. “Na minha opinião, tinham que ser todos. Todos eles juntos não valem o meu filho. Os outros dez vão ficar livres para continuar torturando, mostrando e ensinando na escola de tortura como é que se mata”, afirmou ela ao CORREIO, antes da coletiva de imprensa em que a promotora Ana Rita Nascimento explicou a denúncia.

Rute Fiúza disse, ainda, que “o MP-BA é omisso, tem 100% de culpa nos crimes que ocorrem, porque não fazem um controle do trabalho da PM. Eles têm tanta participaç­ão quanto a polícia”.

Outro razão da indignação da mãe do adolescent­e desapareci­do é o fato de os PMs terem sido denunciado­s por sequestro e cárcere privado. “Se isso é um sequestro e cárcere privado apenas, e não um sequestro seguido de tortura e morte, onde está o meu filho? Gostaria de saber dos promotores do MP-BA se meu filho está na casa de algum deles. Se é desapareci­do, quero saber na casa de qual deles meu Davi está”, indagou Rute.

O MP-BA foi procurado pela reportagem para comentar as declaraçõe­s, mas até a publicação desta reportagem ainda não havia se manifestad­o. A Polícia Militar não informou se os militares seguem trabalhand­o.

Davi Fiúza desaparece­u por volta das 7h30 do dia 24 de outubro de 2014, enquanto conversava com uma vizinha, na Rua Vila Verde, em São Cristóvão, de onde foi levado por um grupo de homens. Duas semanas depois, a mãe do adolescent­e divulgou o caso, acusando policiais militares pelo sumiço.

“Meu filho estava na rua, conversand­o com uma moradora, quando policiais da PM, Rondesp e Peto chegaram ao local”, disse Rute à época. Segundo ela, o grupo dirigia dois carros descaracte­rizados, um Gol prata e um Sandero cinza.

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