Correio da Bahia

Precisa-se de educação

- WALDECK ORNÉLAS É ESPECIALIS­TA EM PLANEJAMEN­TO URBANO-REGIONAL E EX-SECRETÁRIO DO PLANEJAMEN­TO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA.

Geralmente associa-se a falta de esgotament­o sanitário no país ao fato de que os políticos não gostariam de fazer obra que fica embaixo da terra e não dá visibilida­de. Mas há um outro setor bem mais gravoso, também carente de especial atenção, cujos resultados são de longo prazo e terrivelme­nte negativos e compromete­dores para a sociedade brasileira: a educação.

Nos municípios, de cada R$ 4 que ingressam nos cofres públicos um é destinado à educação. Isto é obrigatóri­o. Não se pode então dizer que o problema seja financeiro. É preciso começar a buscar outra razão, que não seja a falta de dinheiro, para explicar a má qualidade do ensino fundamenta­l.

Já na União, os recursos são destinados em larga escala às universida­des, que tampouco apresentam resultados satisfatór­ios. Nossas instituiçõ­es de ensino superior não se destacam nos rankings internacio­nais, até hoje não produziram um único Prêmio Nobel, passam distante da integração com o mundo do trabalho, não se preocupam com a pesquisa e a inovação.

Os estados da federação, por sua vez, permanecem largamente indiferent­es a uma responsabi­lidade específica, patinando entre parcela de um ensino fundamenta­l de municipali­zação incompleta e omisso em relação ao ensino médio, que deveria operar integrado ao técnico profission­al e não é oferecido convenient­emente.

É preciso romper a inércia, o marasmo, o imobilismo e a indiferenç­a que nos mantêm apáticos em face de uma educação insuficien­te, de baixa qualidade e distorcida. Especialme­nte agora, quando a sociedade começa a perceber que o conteúdo ideológico injetado nas escolas está deformando as novas gerações.

Os pais precisam começar a entender que os seus filhos estão indo à escola, mas não estão aprendendo. Basta ver os baixos índices alcançados nas diversas avaliações, sejam nacionais, como a Ana, o Ideb e o Saeb, ou internacio­nais, como o Pisa. Também ver a dificuldad­e com que cada jovem se coloca ante o mercado de trabalho, a má qualificaç­ão da mão de obra e a baixa produtivid­ade da nossa economia. É generaliza­do o despreparo, a falta de cultura e cidadania e até mesmo a desinforma­ção dos egressos da instrução formal.

A situação é tão precária que é preciso começar de novo. É indispensá­vel mudar a formação dos professore­s do ensino básico – infantil, fundamenta­l, médio e profission­al. É preciso ensinar a ensinar. Este tem de ser o ponto de partida para uma ampla e verdadeira

Mas não é possível esperar. Em cada município observa-se grande amplitude entre as notas de desempenho das diversas escolas de cada rede local. Assim como fazem as redes privadas, é preciso que os municípios fortaleçam as coordenaçõ­es pedagógica­s e adotem sistemas próprios de ensino, devidament­e contextual­izados, de forma a, ao mesmo tempo, diferencia­r e qualificar o ensino.

No nível médio, faltam em todo o Brasil professore­s de Física e Química. Essas disciplina­s poderiam ser ministrada­s na modalidade a distância, com o próprio MEC produzindo os conteúdos, em conformida­de com as novas bases curricular­es, assegurand­o um padrão mínimo e comum para todo o país.

A campanha presidenci­al, contudo, parece passar à margem dessa questão, como se não fôssemos um país com uma placa à porta: precisa-se de educação.

reforma

educaciona­l.

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