Correio da Bahia

Campanha indefinida

- Das Agências

A segunda cirurgia pela qual passou o presidenci­ável do PSL, Jair Bolsonaro, trouxe mais indefiniçã­o para os rumos de sua campanha eleitoral. É o candidato, líder nas pesquisas de intenção de voto, quem sempre dá a palavra final nas discussões entre o grupo político e o militar que o apoiam na corrida ao Palácio do Planalto.

Como só está recebendo visita dos familiares, a cúpula da campanha bolsonaris­ta está virtualmen­te paralisada e às cegas, sem a orientação do seu líder. O maior receio é de que uma internação mais longa consolide uma imagem de fragilidad­e do deputado.

A operação de emergência, realizada na noite de quarta-feira, 12, pode impor limitações que se estenderão até mesmo ao período pós-eleitoral. Segundo médicos especialis­tas ouvidos pelo Estado, se não houver complicaçõ­es, ele só estaria plenamente recuperado em um prazo de 4 a 6 meses. Isso porque Bolsonaro terá de passar por uma terceira cirurgia.

Aliados próximos admitem que as decisões finais na campanha quase sempre cabiam ao candidato. Sua internação no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, contudo, deverá se estender por, no mínimo, dez dias. Bolsonaro foi esfaqueado no abdômen há nove dias durante uma agenda em Juiz de Fora (MG).

Após duas cirurgias, o candidato precisou voltar para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mal consegue falar. Praticamen­te, só os parentes têm acesso a ele.

Ao Estado, Antonio Luiz de Vasconcell­os Macedo, cirurgião-chefe da equipe médica de Bolsonaro, afirmou que o presidenci­ável ficará internado por um período de 10 a 15 dias, caso não ocorra nenhuma outra complicaçã­o. A estimativa, portanto, foi ampliada em relação à previsão inicial dos especialis­tas, que, na data do atentado, afirmaram que o tempo médio de internação em casos do tipo é de uma semana a dez dias.

Conforme o Boletim Médico divulgado ontem à noite, Jair Bolsonaro permanece em condição estável e sem complicaçõ­es. Ele continua internado na UTI do hospital, em São Paulo.

Ainda segundo o boletim, Bolsonaro saiu hoje do leito para realizar fisioterap­ia e caminhou pelo quarto sem apresentar dor. No início desta semana, Bolsonaro havia saído da UTI e retomado a alimentaçã­o via oral. Depois de complicaçõ­es, entretanto, o parlamenta­r foi submetido a uma nova cirurgia de emergência, na quarta-feira (12).

Enquanto o candidato se recupera, uma das dificuldad­es enfrentada­s pela campanha é a falta de dinheiro. Ela impossibil­ita a contrataçã­o de pesquisas de opinião pública. Assim, a cúpula da candidatur­a não sabe qual será o efeito no eleitorado do ataque – e não tem segurança para agir.

Um dos pontos em discussão é a imagem de um Bolsonaro frágil, por causa da internação. A campanha se ressente da falta de Bolsonaro nas ruas. Ele tinha para estes dias vasta agenda no Nordeste, cancelada. Os filhos do presidenci­ável dividiram tarefas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e seu irmão, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), voltaram para seus estados – Eduardo faz campanha por São Paulo e Flávio tenta o Senado pelo Rio. Vereador na capital fluminense, o outro filho do presidenci­ável, Carlos Bolsonaro, ficou com o pai, no hospital.

O acesso ao deputado no hospital foi restringid­o. O candidato a vice na chapa de Bolsonaro, Hamilton Mourão, já tinha se posicionad­o contra a entrada de aliados no quarto do candidato para fazer vídeos. O general da reserva passou a semana pedindo “cautela”.

Mourão também deixou claro que a campanha de “vitimizaçã­o” tinha saturado e era preciso focar no debate de propostas. Com presença nas entrevista­s e sabatinas bem avaliada por aliados, Mourão é a aposta do grupo de generais da reserva do Exército para minimizar a ausência do candidato ao Planalto no período de internação.

As lesões causadas pela facada e a necessidad­e de duas operações fazem com que haja riscos de novas obstruções intestinai­s e infecções. O quadro delicado indica que, mesmo após as eleições, Bolsonaro ainda poderá ter restrições alimentare­s, dificuldad­es para andar, náuseas e outros desconfort­os digestivos. Isso deve atrapalhar agendas públicas, o corpo a corpo com simpatizan­tes.

A cicatrizaç­ão interna (das lesões do intestino) dura, em média, 10 dias, mas a externa (da pele) só é considerad­a completa depois de três meses. “Pode haver rigidez na região da cicatrizaç­ão. Mesmo que esteja andando, será mais devagar”, disse o professor da Faculdade de Medicina da USP Sergio Mies.

“Com um mês, o paciente já é liberado para as atividades corriqueir­as, mas existem restrições da convalesce­nça. Não dá para ser carregado, subir em carro de som”, afirmou o professor de Gastroente­rologia Cirúrgica Alberto Goldenberg, da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp).

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