Ronaldo Jacobina Musical sobre o ex-presidente Juscelino Kubitschek chega a Salvador no dia 28, no Teatro Isba
me perdoei e perdoei o Alê. É uma história real, não é uma história do tipo viveram felizes para sempre.
Quando Chorão morreu, você recebeu críticas de alguns fãs e da mídia sensacionalista, dizendo que você o havia abandonado, numa atitude com um quê de machismo. Como você lidou com a situação?
Sim, tem machismo nesse tipo de acusação, como se a mulher não fosse capaz de proteger o ídolo roqueiro do fã. Houve uma irresponsabilidade por parte da mídia que propagou isso de forma sensacionalista. Existem pessoas sérias e veículos sérios, mas vivemos atualmente o apogeu do lado B da mídia, incluindo as redes sociais - e, obviamente, tem as pessoas que gostam e consomem isso. Fui atacada num momento em que eu estava abaixo de zero, sem forças. Logo eu que ficava nos bastidores. Hoje já me empoderei. A partir de agora, não importa a opinião de ninguém, eu sei quem eu sou e o que vivi com Alê.
Você diz no livro que Chorão tinha insegurança, complexo de inferioridade e isso motivava grandes brigas de ciúme entre o casal. De onde vinha essa insegurança emocional?
Você pode ter uma família de cinco irmãos, educá-los da mesma forma e, mesmo assim, vai haver pessoas com características bem diferentes. Ele, por ser um filho do meio, idolatrar o pai e ter um irmão mais velho com uma personalidade forte e boa pinta, buscava o lugar dele. Não quero culpar ninguém, mas essa insegurança vinha desse menino que nunca cresceu e que estava dentro dele. Essa insegurança aparecia em muitos momentos, as pessoas não sabiam como era o relacionamento dele com os meninos da banda. Vinha da própria forma como ele se via. Alê não conseguia entender a magnitude dele, a importância dele, o cara foda que ele era. Teve uma hora em que o Charlie Brown era a banda mais influente da sua geração e Alê era artista de alma, criava muito, você o conheceu, sabe do que estou falando. Era um gênio. Na nossa geração, só Marcelo D2 pode ser comparado a ele.
Nos últimos anos de vida, Chorão ficou mais instável, incluindo brigas na banda e o maior consumo de cocaína. Você conta que o ajudou a enfrentar a droga, que o levou para consulta médica, para uma terapia. O que piorou a situação? Os problemas de relacionamento com os meninos da banda e a morte do pai contribuíram para isso, creio.
Seis meses depois da morte de Chorão, Champignon (baixista e grande parceiro na banda) se suicidou. O que você acha que aconteceu?
Estavámos distantes na época. Vou falar uma coisa para você que eu não coloquei no livro: existia amor e ódio na relação de Alê e Champignon, uma dinâmica de inveja branca entre os dois. Já na época da adição química, Alê falava de modo brabo: “Esse cara quer seu eu. No meu lugar ele não dura seis meses, tem que ter culhões”. Meu, e exatamente seis meses depois o moleque se matou. Não posso especular, porque estavámos distantes, foi algo que me pegou de surpresa quando eu ainda estava totalmente imersa na perda do Alê.
Costumo dizer para colegas e amigos que, apesar da fama de bad boy, Chorão era carinhoso e protetor com os amigos...
Que bom, você conheceu ele, sim. Era exatamente isso. Por insegurança e para se proteger, às vezes, acho, Alê contribuía para essa fama, mas ele era um cara especial demais.
Ouça no site www.correio24horas.com.br Top 10 de Graziela Gonçalves com as canções favoritas que Chorão compôs para ela
Preço R$ 49,90 (272 páginas)