Arte de todos os lados
Economia criativa, artesanato, arte visual, moda e gastronomia marcaram presença ontem, na Praça da Sé, no Pelourinho, durante a 1ª edição da Feira da Sé. O evento integra a Semana de Ação, Cidadania e Memória promovida pelo Instituto ACM, que deve tornar a feira fixa no calendário da cidade. “Até o final do ano, a gente consegue fazer uma por mês. Agora, o desafio é tornar essa feira sustentável”, adianta a diretora do Instituto ACM, Cláudia Vaz.
Muita gente que passou pela praça curtiu a iniciativa que levou, ao todo, 80 artesãos que traduzem em peças de madeira, cerâmica e material reaproveitado, inúmeras manifestações da cultura baiana. Um deles é o artesão Samuel Cruz, que representa o cotidiano das brincadeiras infantis em peças feitas de jornal.
“Comecei a fazer como terapia depois de um acidente que sofri e, hoje, a terapia se transformou em uma forma de renda”, diz. A proposta do trabalho de Samuel também tem uma preocupação com o meio ambiente. “É um trabalho que garante o meu sustento e, ao mesmo tempo, dá visibilidade à questão do reaproveitamento”, completa.
Arte de todo tipo e para todo lado. Não muito distante da barraquinha onde Samuel estava expondo, o artesão Ubiracy Portugal era mais um que chamava atenção de quem circulava pela praça. Os saveiros que antes eram brincadeira de criança viraram peças artísticas. “É uma coisa que eu faço desde criança quando soltava os barquinhos no Rio Jaguaripe. Muita gente já gostou e comprou”, explica.
Espaço também para novos artistas, como o jovem Leonardo Vieira, que participa da sua primeira exposição de rua e encontrou na arte uma maneira de se sentir incluído. Com déficit de atenção, ele descobriu as telas após participar de oficinas de pintura no Centro de Formação e Acompanhamento Profissional da Apae.
“Hoje, a arte para mim é uma forma de mostrar para o mundo que, apesar das dificuldades, todo mundo é capaz”, afirma. Nas telas, a cultura baiana ganha ainda mais cores e um olhar volta-
do para a valorização da negritude. “Vejo o desenho de outros artistas e daí vem a ideia”, explica Leonardo.
E havia muito mais coisas nas barraquinhas que estavam lotadas por toda extensão da Praça da Sé. O fotógrafo Gilmar Cruz é mais um expositor que comemorou o sucesso da Feira da Sé. “Trabalho com fotos decorativas e esse apoio que tivemos aqui é fundamental. A feira dá uma dimensão maior na divulgação do nosso trabalho”, avalia.
Quem saiu de lá com várias lembrancinhas foi a operadora de telemarketing Cintia Rejane, 31 anos: “Um dia é pouco, acho que é o tipo de feira que poderia acontecer muito mais vezes. É muito interessante valorizar este trabalho artesanal e trazê-lo para a rua”.
A Feira da Sé contou ainda com o apoio do Sebrae, Sesc e Senac, Sistema Fecomércio, Prefeitura Municipal do Salvador e da Rede Bahia. “A gente sempre procurou oportunidades de reunir várias criações e promover um espaço de circulação, onde as pessoas sejam capazes de perceber toda a riqueza que temos aqui”, avalia a assessora da direção do Senac, Monique Badaró.
A coordenadora de Turismo e Economia Criativa do Sebrae-BA, Tatiana Martins, concorda: “São iniciativas como esta que valorizam a cultura local para que as pessoas possam comprar produtos que, de fato, têm a cara da Bahia”.