Nova Catedral
As seculares portas da Catedral Basílica de Salvador foram abertas, na manhã de ontem, para receber os fiéis na primeira missa do templo restaurado. A celebração homenageou os 75 anos do arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.
Aos 75 anos, como exige a Igreja Católica, os bispos e responsáveis da Cúria, que é o organismo administrativo da diocese, precisam apresentar ao pontífice uma carta renunciando ao cargo religioso. É o que fez dom Murilo.
A resignação do arcebispo de Salvador deve chegar ao Vaticano nos próximos dias para que o papa Francisco analise o pedido. Mesmo sendo obrigatório, só cabe à autoridade maior da igreja decidir quais serão os próximos passos da vida do arcebispo da religião. “Qualquer prognóstico que se fizer sobre isso será mera especulação”, afirmou dom Murilo.
Segundo ele, quem se despede do cargo é convidado para integrar um novo projeto religioso, ficando disponível para os trabalhos pastorais. “Portanto, não se preocupem comigo ou com a Arquidiocese. Enquanto for arcebispo de São Salvador, estarei me dedicando com amor e com toda a minha responsabilidade. Tenho consciência de que, quando for aceita a minha renúncia, poderei continuar colaborando com a igreja”, acrescentou.
Para os fiéis e os religiosos que conhecem de perto o arcebispo, ele deve continuar como líder da igreja em Salvador. “É um desejo nosso. Ele sempre se dedicou com responsabilidade, além disso, está lúcido, forte”, comentou a freira Josefa Dulce, de 84 anos.
Para a comemoração do seu aniversário vieram do Rio Grande do Sul sua família formada por quatro irmãos - três mulheres e um homem. Dom Murilo é o segundo mais velho entre eles. Também chegaram a Salvador amigos de infância e aqueles que foram feitos durante sua vida religiosa.
Magali Schmit, 67, veio da cidade de Pindamonhangaba, em São Paulo, para o aniversário do amigo que conheceu aos 15 anos, ainda quando ele começava a galgar os primeiros passos na igreja como seminarista.
“Sempre foi uma pessoa muito especial que desde muito novo mostrava vocação para servir à religião. Estou muito feliz de ter vindo à Bahia e celebrar ao lado dele esse momento”, disse a aposentada.
Além de comemorar o aniversário de dom Murilo, fiéis e visitantes também vibra- ram em ver a Basílica aberta depois de ter sido completamente restaurada. Para ficar pronta, foram três anos e meio, R$ 17 milhões destinados integralmente pelo governo federal, 50 mil folhas de ouro e 5 mil folhas de prata.
“É uma bênção. Estávamos nos sentindo incompletos quando a Catedral estava fechada, embora tivéssemos a nossa disposição tantas outras igrejas belíssimas, mas essa é a chave principal da cidade”, falou a dona de casa Janaildes Alves, 68, que aproveitou para fazer uma foto da nave da igreja.
Foram restaurados os 13 altares do templo, pinturas em telas, painéis de azulejos, o forro sob o coro, o piso e a fachada. Tudo foi conferido de perto por quem esteve lá, ontem. A auxiliar administrativa Rosa Carvalho, 45, esteve no lugar pela primeira vez. Ela não imaginava que, por trás das portas verdes, a Catedral escondia tantas peças e pinturas religiosas. “Costumava passar, mas nunca me atentei em entrar, até porque ela esteve fechada por um tempo. É muito bonito ver que a nossa cidade guarda um bem material tão valioso”, pontuou.
O padre Lázaro Muniz, pároco da Catedral, disse estar feliz em receber seus fiéis. “É uma bênção receber todo o povo de Deus aqui, podendo entregar novamente esse monumento que é uma maravilha para glória do Senhor. Mas, também, é uma preocupação, já que exige uma manutenção para fazer com que o povo esteja aqui acolhido”, falou o pároco que, em seguida, revelou não haver, ainda, diretrizes que garantam a manutenção do lugar.