Correio da Bahia

‘Eu não ouço a voz de meus pais desde fevereiro’

- Yasmin Garrido*

Vestido com uniforme do Barcelona, Nicolas, de apenas 9 anos, tinha acabado de voltar da aula de futebol, ontem, e não escondeu a felicidade ao contar à mãe, Marcelle Guimarães, que marcou um gol. Ele mal tinha descansado do treino e já queria voltar à quadra do prédio onde mora, em Salvador. “Mamãe, vai ter mais foto ou eu posso jogar bola?”, perguntou Nicolas.

O clima era de tranquilid­ade, mas o que Nicolas, que nasceu em Houston, no Texas (EUA), não imagina é que a vida dele está envolvida em uma briga diplomátic­a que parece estar longe de acabar: a mãe do menino é acusada pela Justiça americana de tê-lo sequestrad­o em 2013.

A criança, que chegou em Salvador aos 3 anos de idade, descobriu durante uma aula de teatro na escola onde estuda que a história dele é bem conhecida. “Ele é tímido, mas adora teatro. E, durante uma das aulas, o professor estava fazendo uma pesquisa da origem dos sobrenomes dos alunos e, quando digitou o do Nico na internet, apareceram fotos e vídeos dele com o pai”, contou a mãe de Nico.

O menino é filho de Marcelle com o americano Christophe­r Scott Brann. Eles se conheceram durante o mestrado que ela fez nos Estados Unidos e foram casados por cerca de quatro anos. Mas o casamento dos sonhos acabou se transforma­ndo em um pesadelo. Segundo Marcelle, o ex-marido a agredia física e psicologic­amente.

Em julho de 2013, Marcelle saiu dos Estados Unidos com o filho para o Brasil. A viagem aconteceu mediante a autorizaçã­o do pai. No entanto, ela não voltou aos EUA e no dia 12 do mesmo mês entrou com uma ação no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) pedindo a guarda da criança. A decisão não demorou muito a sair. No dia 22 de julho, o juiz responsáve­l por julgar o processo decidiu pela concessão da guarda provisória a Marcelle, estabelece­ndo o direito de visita ao pai americano.

De acordo com documento do TJ-BA, ao qual o CORREIO teve acesso, o juiz argumentou que a “competênci­a internacio­nal para processar e julgar o feito, são o local onde a criança encontra-se residindo e a ocorrência, ou não, de sequestro internacio­nal, conforme estabeleci­do na Convenção de Haia”.

É justamente na Convenção de Haia, um tratado internacio­nal assinado pelos EUA e pelo Brasil, que se apoiam os advogados da baiana. Os defensores alegam que a guarda de Nicolas concedida a Marcelle tem validade perante as Justiças brasileira e estadunide­nse e, por isso, ela não pode ser acusada de sequestro do filho.

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