Polícia baiana entre as que mais matam
de fato o que aconteceu, entre elas imagens das câmeras do posto, que funciona 24 horas. Funcionários do posto disseram não ter visto nada.
O delegado Líbio Braga, do DHPP, que esteve no local, disse que duas viaturas da PM participaram da perseguição ao carro conduzido pela vítima. Segundo o delegado, a PM solicitou perícia ao Departamento de Polícia Técnica (DPT).
“Foram coletadas imagens das câmeras do posto, mas não estão em boa qualidade. Mas acredito que serão coletadas também imagens da farmácia que fica ao lado do posto e de estabelecimentos que estão localizados no trajeto da perseguição”, disse.
A mulher que estava no carro de Márcio foi ouvida na Corregedoria da PM - onde chegou por volta das 8h30 de ontem. Ela chorava e estava acompanhada de um rapaz, sócio de Márcio. Eles não falaram com a imprensa. O depoimento dela durou pouco mais de quatro horas.
Márcio Perez era formado em Economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Ele tinha duas filhas - uma completou 9 anos no dia 18 e, por isso, uma festa de aniversário estava programada para esse domingo (23).
De acordo com vizinhos do empresário, ele morava no mesmo lugar - o 2º andar de uma casa na Rua Gáspar da Silva Cunha - há 40 anos. “Ele chegou [para morar na casa] com 1 ano de nascido e pretendia ir para Espanha, onde estão os pais. Ele era filho único”, disse uma vizinha, que não quis se identificar. Assim como outros moradores, ela disse que ouviu os tiros pouco depois das 23h.
Em relação à mulher que estava no banco de carona do carro, os vizinhos disseram que não a conheciam. “Nunca a vi com ele. Sabemos que ele tem uma ex-mulher e dois filhos. O parente mais próximo é um primo que morava aqui em Salvador”, disse outra vizinha.
Em entrevista à TV Bahia, a ex-mulher de Márcio, que não teve o nome divulgado, disse que ele pretendia levar as filhas para passar as férias na Espanha. Este final de semana, ele ficaria com as meninas: “Ele era um paizão, uma pessoa supertranquila. Foi a pior coisa que eu já fiz na minha vida, foi dar essa notícia pras minhas filhas”.
O corpo do empresário foi liberado ontem de manhã do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues. A mãe dele deve chegar hoje da Espanha e levar o corpo do filho para ser sepultado no país europeu.
No dia 3 de junho deste ano, uma turista filmou a abordagem truculenta de policiais militares no Largo do Santo Antônio Além do Carmo. Nas imagens, um PM aparece agredindo um jovem que portava um cigarro de maconha. Uma mulher que estava grávida e que tentou defender o rapaz também foi agredida com tapas por um dos policiais. A corporação afastou um militar do 18º Batalhão de Polícia Militar (BPM/Centro Histórico).
Em 21 de abril deste ano, o artista plástico Arnaldo dos Santos Filho teve a casa invadida e foi morto a tiros por policiais. Os três PMs envolvidos estão afastados e foram indiciados por homicídio doloso - quando há intenção de matar. Um processo administrativo também foi aberto.
Em 2015, uma ação policial na Vila Moisés, no bairro do Cabula, em Salvador, terminou com a morte de 12 jovens, entre 16 e 27 anos. Todos os policiais envolvidos na ocorrência foram absolvidos pela Justiça. Mas, este ano, a Primeira Turma da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia anulou a decisão e resolveu seguir com o processo.
Em 2014, Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, foi morto dentro das dependências da Rondesp (Rondas Especiais), no Lobato, em Salvador. Onze policiais militares que participaram do crime foram denunciados. Seis deles ainda irão a júri popular. O cabo Jesimiel da Silva Resende, 42, envolvido no caso, foi preso no dia 6 de julho deste ano roubando pedestres no Imbuí. A polícia da Bahia é uma das que mais matam no Brasil. Ao longo do ano de 2016, 457 pessoas foram mortas na Bahia em decorrência de intervenções policiais. Os dados foram divulgados pelo Atlas da Violência 2018, em junho passado.
A pesquisa, conduzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), coloca a Bahia na terceira posição no ranking de mortes por intervenções policiais, atrás apenas do estado do
Rio de Janeiro, com 925 casos ao longo de 2016, e de
São Paulo, com 856 mortes em situações semelhantes no mesmo ano.
Os números usados foram fornecidos pelas secretarias de segurança pública dos estados, embora, no restante do Atlas, tenham sido utilziados números Datasus, do Ministério da Saúde. É que, neste caso, não há informações da saúde sobre todos os estados.
Se, mesmo assim, forem considerados os números da saúde, a Bahia aparece em segundo lugar no ranking, com 364 mortos decorrentes de intervenção policial, atrás somente do Rio de Janeiro, com 538. No caso de São Paulo, os dados da saúde computam somente 254 mortes nessas circunstâncias em todo o ano.
A incongruência nos dados é destacada no próprio estudo. Segundo o instituto, isso acontece porque os dados do Datasus são fornecidos por peritos e médicos legistas e que esses profissionais nem sempre têm todas as informações necessárias quando fazem o registro das Corregedoria da Polícia Militar da Bahia Quem se sentir coagido ou ameaçado por policiais militares da Bahia pode procurar a Corregedoria da Polícia Militar, que fica na Rua Amazonas, nº 13, no bairro da Pituba, em Salvador, para registrar a ocorrência.
Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Estado da Bahia (OAB-BA) A Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia também oferece auxílio através da Comissão de Direitos Humanos. Quem estiver precisando de ajuda pode entrar em contato com a mortes para indicar a autoria do homicídio. Por isso, em muitos casos, os crimes são classificados como morte por agressão.
O Atlas da Violência 2018 foi construído com base nos dados de 2016 e apontou, entre outras coisas, que em dez anos a taxa de homicídios na Bahia quase dobrou: cresceu 97,8%. O estudo indica que, de 2006 para 2016, o Brasil sofreu aumento de 23,3% nos homicídios de jovens (pessoas com idades entre 15 e 29 anos), sendo que no último ano analisado pela pesquisa, 33.590 jovens foram assassinados - 94,6% deles eram homens.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou, na época, que as mortes em confronto são acompanhadas pelas corregedorias: “A Secretaria da Segurança Pública da Bahia ressalta que todo policial brasileiro, por lei, tem o direito de reagir a ataques de criminosos. Acrescenta que todas as mortes em confronto são acompanhadas pelas corregedorias”. equipe pelo e-mail comissoes@oba-ba.org.br ou ir pessoalmente no 1º andar do Fórum Ruy Barbosa, no bairro de Nazaré, ou na sede da instituição, na Piedade, em Salvador.
Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) O Ministério Público do Estado (MP-BA) também atende denúncias a respeito da atuação de policiais. Lá, funciona o Grupo Especial de Atuação para o Controle Externo da Atividade Policial (Gacep), composto por promotores de justiça. O telefone é o (71) 3103-6805.