Correio da Bahia

Preparo do prato tem tradição

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Segundo o professor Vilson Caetano, o caruru veio da África e sofreu uma série de sincretism­os com o passar tempo. Ele aponta que os indígenas que viviam no Brasil já cozinhavam uma receita similar ao caruru africano, chamado “caruru de folhas”, que pode ser feito com taioba ou bredo-de-santo-antônio.

Apesar do mesmo nome, há uma diferença entre o caruru aos Ibejis, no candomblé, e a comida baiana. “O caruru aos Ibejis reúne as comidas de todos os orixás, por isso, além do caruru, precisa ter vatapá, arroz branco, feijão preto, inhame, milho branco, acarajé, abará, cana, xinxim de galinha, banana frita e farofa de dendê. Como são erês, ou seja, crianças, tem que ter pipoca, rapadura e balas, de preferênci­a de mel”, explica Angélica Moreira, 59 anos, ekedi do Ilê Axé Opó Afonjá.

Ela diz que as inovações não representa­m uma ameaça, mas reconhece que a tradição está perdendo força. Os católicos também celebram Cosme e Damião no próximo dia 27 e, para o padre Damião Pereira, da paróquia de São Cosme e Damião,não há problema em comer o caruru, desde que se mantenha a pureza na fé.

Por falar em fé, foi também por conta dela que o caruru de aniversári­o da feira das Sete Portas diminuiu. “Antigament­e, todos os proprietár­ios de lojas na feira se reuniam para fazer um caruru grande, que era distribuíd­o para quem quisesse”, conta America de Aguiar Rocha, 87, a Dona Meri, que hoje administra a feira.

“Hoje, muitos donos de boxes são evangélico­s e não admitem que a festa de Cosme e Damião aconteça nas áreas comuns”, explica. Mas ela continua fazendo o caruru no andar de cima. Questionad­a sobre a variação vegana do prato, Dona Meri, com bom humor, rebate: “Próximo ano, vou fazer feijoada, porque dá menos confusão”.

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