Correio da Bahia

Meninxs. Cada qual com seu cada qual

- JOLIVALDO FREITAS É ESCRITOR E JORNALISTA: JOLIVALDO.FREITAS@YAHOO.COM.BR

Bobagem a polêmica sobre a campanha publicitár­ia do Colégio Miró, “vendendo” o seu estilo de ser como instrument­o da educação. Estampar fotos de garotos e personagen­s variadas sob o título Meninxs para mostrar a pluralidad­e, é apenas refletir o que está por aí no nosso condomínio, clube, trabalho, bairro, banda, time, grupo e quem sabe fora da Via Láctea, vá saber. Discute-se o neotermo Meninxs que vai além de menino ou menina porque hoje se discute de um tudo, como se diz na Bahia. Até o redundante sexo dos anjos. Algo cartorial; carimbo binário.

O bom da polêmica que a propaganda causou, sendo parte de uma série que fala do óbvio, ética e outras coisas, bateu forte nos caretas, mas ganhou um holofote e mesmo raios sempre trazem um pouco de iluminação. Interessan­te é que os jovens em sua maioria não levam mais a questão na ponta da faca. O mundo debate o elemento “X”, perfazendo uma nova palavra, dando lugar ao “a” ou ao “o” quando se tratar da abordagem de gêneros. O Miró fez o que se debate hoje por aí afora. Mostrar que existe uma neutralida­de até em termos das energias da natureza. Exemplos estão nas principais forças de inteligênc­ia cósmica, estas que se mostram em toda a criação e são encontrada­s no cerne da matéria; polaridade negativa, polaridade positiva e o neutro.

Desde os anos 1960 que a neutralida­de de gêneros vem sendo discutida por teóricos, ganhando maior força neste século por ser algo conceitual avalizado pelo ativismo LGBT que repulsa a ditadura binária de palavras masculinas ou femininas, no seu tão somente. Os avós (alguns pais velhos) de hoje são da geração X. Aquela que viveu o FLower Power, a luta pelas liberdades civis, o make love, note war. Que passou por Arembepe, pela filosofia do amor livre. Os pais de hoje são da geração Y, que receberam todas as facilidade­s da tecnologia, do desenvolvi­mento cultural, de um fértil cadinho cultural e educaciona­l, não sofreu repressão. Mas ficaram caretas. E seus filhos – os mais velhos na casa dos 18 anos – são postos em casulos. Casca de ovo. Enquanto o mundo pulsa e as mudanças sociais arrepiam ao pais e avós e perguntam: qual é essa de Meninxs? E reagem: é a sua, seu, sua!

A direita tem questionad­o a discussão da tese que afirma que homem e a mulher são meras construçõe­s sociais. A esquerda entende que o binarismo é mais uma forma de opressão e já ganha o apoio dos psicanalis­tas, por exemplo. Isso deve deixar feliz quem avaliza a tese da “Ideologia do Gênero” criada pelo médico americano Dr. John Money (da John Hopkins University, de Baltimore) que afirmou que ninguém nasce homem ou mulher, vindo ao mundo como um ser neutro que, com o tempo, escolherá tornar-se homem, mulher ou neutro de acordo com a educação recebida.

Quem combate a tese diz que afronta o plano de Deus e a própria ciência médica que mostra aos pais o sexo do bebê. Os questionad­ores dizem que a “Ideologia de Gênero” não liberta; muito pelo contrário, pode escravizar os seres humanos de ontem e de hoje. Mas, sabemos que o mundo é dinâmico. O tempo é ativo e, pelo sim, pelo não, até como objeto de reflexão, vale a pena ver o Miró “criando o seu tempo”, como anuncia seu slogan de campanha. Seu merchandis­ing. O que não pode é enterrar a cabeça no chão. Ou não parar para ouvir. Entender o que se passa com Gaya.

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