Correio da Bahia

História de lutas

- Gabriel Rodrigues

Quem vê a habilidade e a intimidade de Modric com a bola nos pés nem imagina o que o atual melhor jogador do mundo passou até desbancar o ex-companheir­o Cristiano Ronaldo - cinco vezes eleito e o egípcio Mohamed Salah para ser coroado pela Fifa ontem, no Royal Festival Hall, em Londres.

O prêmio foi a cereja do bolo na carreira do jogador de 33 anos que, antes de conquistar 14 títulos pelo Real Madrid e brilhar nos gramados da Rússia, comandando a Croácia na inédita campanha do vice-campeonato da Copa do Mundo, precisou driblar um adversário bem mais duro: a guerra.

Foi no clima instável da guerra da antiga Iugoslávia que compreendi­a os atuais território­s de Sérvia, Montenegro, Eslovênia, Macedônia, Bósnia, Kosovo e Croácia -, que Modric nasceu, na cidade de Zadar. Com apenas seis anos, ele teve a casa destruída pela guerra, em Velebit, viu o avô morrer em um bombardeio e voltou a Zadar como refugiado. Viveu em abrigos, onde teve o seu primeiro contato com a bola.

Foi na equipe de Zadar que Luka Modric mostrou o seu talento para o futebol e despertou a atenção do Dínamo Zagreb. Mas antes de ganhar destaque em um dos maiores clubes do país, passou pelos modestos Zrinjski Mostar, da Bósnia, e Inter Zapresic. A partir disso, foi a vez de brilhar em clubes grandes como Tottenham e Real Madrid.

Se a vida de criança foi recheada de momentos tensos, Modric voltou a viver um drama já na vida adulta. No ano passado, o meia foi acusado de mentir à Justiça do seu país para proteger Zdravko Mamic, ex-diretor do Dínamo de Zagreb.

Mamic foi acusado de lucrar quase 15 milhões de euros nas vendas de Modric, para o Tottenham, e Dejean Lovren, para o Liverpool. Modric ainda responde por falso testemunho, assim como o zagueiro do Liverpool, e a casa em que a sua família se refugiou, em Zadar, chegou a ser pichada com inscrições contra o jogador.

A situação entre Modric e torcedores croatas só foi amenizada após a boa campanha do país na Copa do Mundo. O jogador foi o destaque da equipe no torneio.

Se para Modric o prêmio de melhor jogador do mundo representa tudo aquilo que ele sempre sonhou, para o futebol é o fim de uma hegemonia que já durava 11 anos. Desde que o brasileiro Kaká conquistou o prêmio, em 2007, Messi e Cristiano Ronaldo fizeram da eleição uma disputa particular. Foram cinco conquistas para cada um, até o argentino ficar fora da indicação da atual temporada pela primeira vez desde que começou a participar da disputa, em 2007. O camisa 10 do Barcelona e da Argentina, por sinal, terminou somente na quinta colocação.

Cristiano Ronaldo, por sua vez, vivia a expectativ­a de vencer o prêmio pela sexta vez e se isolar na disputa, desempatan­do a briga com Messi. Mas, com a iminência de perder para o croata, ele nem compareceu a premiação. O português alegou que havia jogado no domingo passado pela Juventus, e voltaria a campo amanhã, contra o Bologna, também pelo Campeonato Italiano.

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Antes criticado, Modric foi recebido com muita festa na Croácia após o segundo lugar na Copa do Mundo
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