Greve geral
As grandes centrais sindicais paralisaram a Argentina, ontem, com uma greve geral de 24 horas, convocada no momento em que o presidente do país, Mauricio Macri, está em Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU e se reunir com investidores para tentar transmitir confiança.
Com os dados macroeconômicos em situação preocupante, especialmente a inflação, que deve superar 40% em 2018, e o Produto Interno Bruto (PIB), calculado em -2,4% para o fim do ano, os sindicatos paralisam os transportes públicos, o tráfego aéreo, o transporte de carga terrestre, os bancos e a administração pública, incluindo escolas e hospitais.
Os efeitos da greve já foram até sentidos por aqui. Ontem, os voos internacionais da Argentina, tanto os que vinham ao Brasil quanto os que sairiam daqui, foram cancelados e os passageiros precisaram entrar em contato com as companhias aéreas para remarcar a viagem. De acordo com a Latam, 187 voos dentro e para fora do país foram cancelados. A Gol informou que estava trabalhando para manter sua operação dentro da normalidade. Já a companhia argentina Aerolíneas, com voos entre os dois países, informou que os voos de ontem foram adiantados e realizados anteontem. A Azul também informou que quatro voos da companhia foram cancelados.
Esta é a segunda paralisação geral desde que o governo Macri assinou, em junho, um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) por 50 bilhões de dólares, dos quais o país já recebeu 15 bilhões, mas que espera poder ampliar para um valor superior.
O movimento foi convocado como uma greve sem manifestações, mas, anteontem, milhares de representantes de movimentos sociais, partidos de oposição e da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) saíram em passeata em Buenos Aires até a Praça de Maio para repudiar as medidas de austeridade e o acordo com o FMI.
“Mauricio Macri deixou de governar a Argentina, cada medida que toma precisa consultar com o FMI”, afirmou Joaquín Noya, um dos manifestantes que seguiram até a Casa Rosada, sede da Presidência.
A taxa de desemprego segue em alta, com 9,6% no segundo semestre, e o índice de pobreza que será anunciado esta semana deve interromper a tendência de queda: ao final de 2017 era de 25%.
Macri, um liberal de centro-direita, insiste que a Argentina não pode gastar mais do que produz e tem o objetivo de alcançar um déficit primário zero em 2019. Para concretizar a meta, ele precisa que o Congresso, onde não tem maioria, aprove o projeto de orçamento apresentado na semana passada. A pressão dos sindicatos, que exigem ajustes salariais de acordo com a inflação, é um dos principais obstáculos.
A greve geral argentina coincidiu oportunamente com o dia do discurso de Macri na Assembleia Geral da ONU. Em sua fala na
ONU, na tarde de ontem, o argentino preferiu ignorar a greve e disse que o país passa por um período de “mudanças profundas”, que demandam grandes esforços. O presidente ainda disse que tem a “convicção de fazer os esforços corretos”. “Decidimos atravessá-lo com a humildade para aceitar as dificuldades e com a convicção de fazer os esforços corretos. Sei que o esforço é grande e quero agradecer a cada argentino por isso”, falou.
Em meio a esse caos, o presidente do Banco Central da Argentina, Luis Caputo, renunciou ao cargo, ontem. A renúncia, segundo Caputo, foi por motivos pessoais. O sucessor será o atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guido Sandleris.
Caputo é o segundo presidente do Banco Central a renunciar desde que a Argentina recorreu ao FMI para ajudar a frear a disparada do dólar, em maio.