Correio da Bahia

O início do sucesso

- ALEXANDRE LYRIO

O piso da Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, era a passarela de estreia para muitos ali. Cada passo no chão de cimento queimado poderia significar um ato de mudança de vida. A primeira seletiva aberta para o Afro Fashion Day 2018 (AFD), realizada ontem, surpreende­u não só pelo talento dos candidatos, mas também pelas suas histórias.

O jovem aprendiz do metrô de Salvador pode, por exemplo, sonhar em ser modelo internacio­nal. Irlen Bispo Santos, de 20 anos, morador de São Cristóvão, até já participou de alguns concursos. Mas, vinha trabalhand­o mesmo é nos bloqueios e postos de auto-atendiment­o do Metrô.“Tá muito puxado trabalhar, estudar e ainda se dedicar à carreira de modelo. Ainda mais sendo negro. O Afro Fashion Day renova as minha esperanças”, disse Irlen.

A missão das seletivas de bairro é identifica­r jovens talentos que ainda não sejam agenciados e coloca-los na passarela da 4ª edição do AFD, reconhecid­a como a maior iniciativa de moda afro do Brasil, este ano com 12 agências parceiras, onde desfilam roupas e acessórios criados por estilistas e designers baianos. É bom lembrar que o AFD foi a primeira passarela para algumas modelos de sucesso, como Ana Flávia, primeira mulher negra a vencer o Ford Models e hoje com carreira fora do país.

Diante de exemplos como esse, Laiana São Ricardo, 24 anos, moradora de Mussurunga, se animou para ir à seletiva. “Todo mundo sempre me disse que eu tinha que ser modelo. Uma vez me chamaram para uma campanha publicitár­ia e eu nem fui”, admitiu Laiana. “Agora resolvi tentar”, garantiu ela, que é formada em gastronomi­a.

Entre artistas, modelos profission­ais e novos talentos, cerca de 60 pessoas vão participar do AFD. Além do Curuzu, onde 81 candidatos foram inscritos, as seletivas para modelos não agenciados vão percorrer outros quatro bairros – Plataforma (04/10), Tancredo Neves (11/10), Pelourinho (18/10) e Itapuã (25/10).

Representa­ntes das três agências de moda que ontem estavam no Curuzu, todos negros, disseram se doar a esse evento muito mais do que em outros. Até porque, é onde eles podem colocar seus casting para trabalhar sem preconceit­os. “Não são pouco os eventos que reclamam da quantidade de negros dos nossos castings. Quantas vezes já ouvi: ‘Poxa, a sua agência tem muitos negros’”, falou Pepê Santos, da One Models, apoiado por Marlon Júnior, da The Agency, e Sivaldo Tavares, da PJT.

O próprio produtor de moda responsáve­l pela edição dos looks, Fagner Bispo, vê o AFD como uma quebra nas imposições dos desfiles tradiciona­is. “O AFD veio para reconfigur­ar a moda, vem para mostrar que existe um mercado de modelos negros em um país em que eles não têm muito espaço”, disse.

Para participar da seleção, é preciso realizar inscrição prévia e gratuita através do Sympla. O link para a edição da Liberdade é bitly.com/ seletivasc­uruzu e para a de Plataforma bitly.com/seleti vasplatafo­rma. Não é necessário residir no bairro para se inscrever. Podem participar jovens de 13 a 24 anos, moradores de Salvador e Região Metropolit­ana que não sejam agenciados.

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A senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, foi a passarela de estreia para muitos dos candidatos e candidatas que desfilaram ontem na primeira seletiva aberta do evento
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