Correio da Bahia

SUS, patrimônio do Brasil

- DAVID RIOS É MÉDICO E DEPUTADO ESTADUAL

Um dos maiores programas do mundo de inclusão social e universali­zação da assistênci­a médico-hospitalar, pelo qual passam 166 milhões de pessoas, ou quase oito entre dez brasileiro­s, o Sistema Único de Saúde (SUS) acaba de completar 30 anos, comemorado­s em 5 de outubro passado. Ele atinge esta idade como um “trintão debilitado” que necessita de “vitaminas” para enfrentar os enormes desafios do futuro, nesse caso específico mais verbas e recursos humanos para continuar correspond­endo ao preceito que o criou como fruto da Constituiç­ão Federal de 1988, o de que a saúde “é um direito de todos e um dever do Estado”.

Aliás, a concepção do SUS nasce bem antes, entre as décadas de 1970 e 1980, quando diversos grupos da sociedade civil organizada, que defendiam o direito universal à saúde, se reuniram num movimento sanitário para discutir a melhor maneira de atender a população nesse setor vital para a qualidade de vida, a saúde. Hoje, três décadas depois de sua implantaçã­o, os números do SUS impression­am. Além de atender a mais de 160 milhões entre os quase 208 milhões de brasileiro­s, o SUS conta, atualmente, com o maior sistema público de transplant­es de órgãos do mundo.

O sistema tem também o maior programa mundial de imunizaçõe­s. Merece ainda destaque a atenção primária em saúde que vincula cerca de 60% das famílias brasileira­s às equipes do Programa de Saúde da Família. O SUS conta com 330 mil leitos conveniado­s. Apesar desses números espetacula­res e de sua inegável contribuiç­ão na diminuição da mortalidad­e infantil, no aumento da expectativ­a de vida, na eliminação ou erradicaçã­o de doenças, na implementa­ção de uma série de políticas de promoção da saúde, o sistema enfrenta sérios problemas, como a carência de recursos para manutenção dos serviços e remuneraçã­o de seus quadros, de leitos, medicament­os e as grandes filas. Contudo, um dos principais entraves para que funcione melhor é o subfinanci­amento do sistema público de saúde.

De acordo com a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), muitos países chegam a aplicar três vezes mais em saúde do que o Brasil. Os Estados Unidos aplicam 21,3% do seu orçamento em saúde; a Suíça 22%; a Nova Zelândia 23%, o Japão 20%; mesmo percentual do Uruguai; a Costa Rica 24% e a Nicarágua 23%. No Brasil, a taxa não chegou a 7% em 2016 e de lá para cá não aumentou, sendo menor do que a média da África, 9,9%.

No país, a situação se agravou com a aprovação da Emenda Constituci­onal 95/2016, que congelou o teto dos gastos públicos por 20 anos, agudizando o subfinanci­amento crônico do SUS. Conforme pesquisa da Confederaç­ão Nacional dos Municípios, feita com base em dados do Tesouro Nacional, em 2017 em relação a 2016, as despesas do governo com saúde e educação caíram 3,1%, se descontada a inflação. Em termos nominais, o gasto total nas duas áreas ficou congelado, saindo de R$ 191,2 bilhões para R$ 191,3 bilhões

Além do financiame­nto insuficien­te, o SUS padece ainda de problemas decorrente­s da má gestão. A mesma OMS estima que, no Brasil, a ineficiênc­ia e a burocracia resultam em perdas de 30% a 35% no setor da saúde. Somem-se a isso os desvios provenient­es da corrupção, que teremos uma perda de 50% das verbas destinadas à saúde dos brasileiro­s. Mesmo com todos esses problemas, temos que continuar defendendo o SUS e a saúde pública. Esta sempre foi a minha escolha, como médico que atende e sempre atendeu pelo SUS, e minha prioridade como homem público: fortalecer o SUS, com mais recursos e melhor gestão, porque o dinheiro bem empregado multiplica o rendimento em todos os setores da economia, pública e privada. Hoje, aos 30 anos, o SUS é um patrimônio da saúde do Brasil, que não pode ser desmontado, mas preservado, valorizado e robustecid­o.

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