Correio da Bahia

Faltou falar do papel do Brasil no mundo

- CORIOLANO XAVIER É MEMBRO DO CONSELHO CIENTÍFICO AGRO SUSTENTÁVE­L (CCAS) E PROFESSOR DA ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

Chegamos ao segundo turno da eleição presidenci­al e praticamen­te não se discutiu, durante toda a campanha eleitoral, qual o papel do Brasil no mundo. No entanto, somos hegemônico­s no agronegóci­o mundial, um dos principais produtores e exportador­es de alimentos, com a perspectiv­a de mais do que dobrar as exportaçõe­s nessa área, nos próximos dez anos, segundo o USDA. Nosso principal parceiro comercial é a China, potência em ascensão na geopolític­a internacio­nal. Também estamos entre as dez maiores economias mundiais, com um mercado de 208 milhões de pessoas e influência estratégic­a na América Latina. De quebra, o país é uma potência ambiental, o que é de grande relevância nesses tempos de mudanças climáticas e mobilizaçã­o mundial para colocar um freio.

Essa ausência de debate sobre a inserção brasileira no mundo, entre os principais postulante­s à Presidênci­a, guarda alguma relação com a cultura sedimentad­a pelo isolacioni­smo histórico da economia brasileira. Hoje, o mercado internacio­nal pauta-se pelo multilater­alismo, com o desenvolvi­mento contínuo de acordos bilaterais ou multilater­ais de comércio em todos os continente­s, mas o engajament­o brasileiro nessa tendência ainda se mostra tímido. A própria agenda econômica de quase todos os candidatos, meio que passava ao largo dessa questão. Contudo, agora que o palanque do segundo turno está definido, é chegado o momento de levar essa discussão aos dois postulante­s ao governo federal, e também às demais forças políticas que desenharão a agenda político-econômica do país, nos próximos anos. O agronegóci­o é uma exceção no cenário isolacioni­sta do país, pois o setor já exporta para cerca de 140 países. Mas mesmo assim pode ampliar esse dinamismo com novos mercados ou maior penetração em mercados atuais, até porque tendem a vir de além fronteira importante­s alavancage­ns do setor, na próxima década. Nessa perspectiv­a, dois pontos parecem surgir como estratégic­os para o agro. Primeiro, uma efetiva política para promover maior abertura comercial do país, sob a batuta do multilater­alismo e, inclusive, aproveitan­do o forte potencial competitiv­o do nosso agro, seja em produtos ou mesmo em serviços tecnológic­os para a faixa tropical do planeta. Sempre lembrando que abertura comercial é sinônimo de vender, comprar e aprender, estendendo seus benefícios de competitiv­idade para toda a economia, do campo à indústria e aos serviços.

O outro pilar essencial para somar no fortalecim­ento do país no mercado internacio­nal é a modernizaç­ão e o compliance dos processos fiscalizad­ores da defesa sanitária e de outras eventuais atividades de impacto sobre a segurança dos alimentos aqui produzidos. Isso tem a ver com o conceito dos produtos brasileiro­s no exterior, portanto, é fator para abrir oportunida­des de venda, além de combustíve­l para estratégia­s de agregação de valor em nossas ofertas e para aumento de prestígio da marca Brasil. Para um setor com peso de um quarto do PIB e presença internacio­nal ascendente, essa questão bem que poderia merecer atenção de prioridade nacional.

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