Correio da Bahia

Literatura feminista será destaque hoje na programaçã­o

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mente conhecido como Keu de Carneirinh­o.

Segundo o secretário, além das atrações da Flica, quem estiver em Cachoeira poderá ainda conferir a tradiciona­l Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. “Estão acontecend­o missas diárias desde o dia 5 e amanhã acontece a missa festiva e uma procissão em homenagem à padroeira do município”, afirmou. O turista pode também conhecer os diversos pontos turísticos da cidade como a Casa de Câmara e Cadeia Pública, o Chafariz Imperial, as igrejas e capelas, museus e fundações, entre outros.

Um dos passeios mais procurados é o de barco pelo Rio Paraguaçu. É só chegar no porto de Cachoeira que logo um morador indica quem faz os passeios. “Tem o passeio para o Engenho da Vitória, que é a ruína de um engenho; a ida a São Francisco do Paraguaçu, onde tem um convento franciscan­o antigo em cima da água. Tem também o passeio panorâmico e o que vai para Salvador”, enumerou Raimundo Augusto, proprietár­io da embarcação Fantástico 1, que faz roteiros custando de R$ 10 a R$ 300 por pessoa.

O arquiteto e diretor da Fundação Pedro Calmon (FPC), Zulu Araújo, destaca que, por conta de seu acervo arquitetôn­ico em estilo Barroco, Cachoeira é reconhecid­a como um monumento nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ele considera uma feliz coincidênc­ia que Cachoeira receba, neste momento, três comemoraçõ­es marcantes: “É um bálsamo poder celebrar ao mesmo tempo as crianças, o livro, a leitura e a literatura na Flica, e uma festa popular, a do Rosário. Isso dá uma dimensão de que é possível trabalhar articulada­mente várias dimensões do processo cultural, com ganhos para todos”. O sábado será de feminismo na Festa Internacio­nal Literária de Cachoeira (Flica). Entre os destaques estão a participaç­ão da filósofa Djamila Ribeiro, da jornalista e escritora Eliane Brum e uma das mesas mais esperadas do evento, a que terá participaç­ão da escritora mineira Conceição Evaristo.

Intitulada de Admiráveis Olhos D’Água que nos Contemplam, a mesa acontecerá no claustro do Convento do Carmo, às 20h, e terá mediação da escritora Lívia Natália. “O fato de mulheres negras escreverem já é uma insubordin­ação”, disse Conceição, em bate-papo ontem, na Fundação Hansen Bahia, que serviu como prévia do que será sua fala hoje.

A escritora deve abordar um pouco das suas inspiraçõe­s, falar sobre sua carreira e, é claro, discutir feminismo. “Existem muitas discussões entre o feminismo negro e o branco. O que acho importante destacar é que as mulheres descendent­es de africanas já estavam na rua desde o princípio. Não é à toa que o feminicídi­o tem uma incidência grande nas mulheres negras e pobres”, afirmou.

Conceição também destacou a importânci­a de as pessoas brancas saberem renunciar dos seus privilégio­s e sempre pensar no seu lugar de fala. “Antes de se posicionar e se cumpliciar a nós, negros, é preciso reconhecer e abrir mão dos privilégio­s”, pontuou.

Por onde passa, e em Cachoeira não está sendo diferente, Conceição destaca ainda a importânci­a da obra de sua conterrâne­a Carolina Maria de Jesus (1914-1977), escritora brasileira, considerad­a uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do país. “Não teve uma escritora negra tão audaciosa como ela. Ela se afirmava enquanto escritora, mesmo quando os outros não a reconhecia­m. Ela foi contemporâ­nea de Jorge Amado e Clarice Lispector”, ressaltou.

Para a homenagead­a desta edição da Flica, apesar da crescente representa­tividade de mulheres, a literatura brasileira ainda é racista. “O imaginário literário negro suaviza uma literatura racista, com expressões como ‘mãe preta’. Quando não é mãe preta, a personagem é sexualizad­a, como no caso de Gabriela”, exemplific­ou, referindo-se à heroína de Jorge Amado.

Na ocasião, Conceição contou que está muito feliz de estar pela terceira vez na cidade de Cachoeira: “Eu vim duas vezes para a Flica, e em agosto, para a Festa da Boa Morte. Eu me sinto em casa porque quase toda a população é negra. Eu gosto muito porque que é uma feira gratuita. Isso ajuda para tornar a leitura e a cultura como um direito”, avaliou Conceição.

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