Correio da Bahia

Vigiados 24 horas

- Thais Borges

Casinhas antigas, coreto na praça e o barulho das cachoeiras. Nesse cenário, pouco mais de 9,2 mil moradores, que se sentem tão seguros a ponto de não precisar trancar a porta de casa à noite. Mesmo assim, Mucugê, um dos principais redutos turísticos da Chapada Diamantina e um dos 78 municípios baianos com menos de 10 mil habitantes, decidiu em vigilância.

Por iniciativa dos moradores, o Conselho Comunitári­o de Segurança Pública instalou um sistema de videomonit­oramento com 50 câmeras espalhadas nos principais pontos da cidade, incluindo o Cemitério Bizantino, criado no século XIX.

O Festival de Forró da Chapada, realizado no fim de semana, foi o primeiro evento monitorado em tempo real. Todas as câmeras devem entrar em operação gradativa até o fim de novembro.

E Mucugê não está sozinha. Até mesmo o município com o menor número de moradores do estado, Catolândia, no Extremo-Oeste, inaugurou seu sistema no ano passado (veja mais abaixo).

O presidente do Conselho

investir de Segurança de Mucugê, Tácio Matos Neto, explica que, ainda que as pessoas estejam acostumada­s com a tranquilid­ade da cidade, ocasionalm­ente, ocorrem alguns crimes - de janeiro a março deste ano, foram registrado­s um roubo de carro, um furto de carro e cinco ocorrência­s de uso/porte de entorpecen­tes.

“Conversand­o com pessoal da área de inteligênc­ia de segurança, vimos que onde o crime se organiza é muito di- fícil tirar. Mas onde a sociedade se organiza antes, para não deixar o crime se organizar, você mantém a paz. Depois que o crime passa a comandar, dificilmen­te você consegue erradicar aquilo. Não podemos esperar ficar ruim para começar”, afirmou.

Assim, há pouco mais de dois meses, o conselho foi instituído. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 25 mil – todo o valor a partir de doações dos próprios moradores. A ideia, segundo Matos Neto, é fazer com que a sociedade civil também assuma responsabi­lidade pela segurança pública, sem tirar a responsabi­lidade do estado e do Judiciário.

O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Eures Ribeiro, destacou a proposta de Mucugê. Ele, que é prefeito de Bom Jesus da Lapa, disse que a cidade se tornou um exemplo para o estado. “Fiquei sabendo na semana retrasada e é a primeira vez que me deparo com isso. Mucugê inaugura uma experiênci­a que pode ser seguida por outros municípios da Bahia”.

Ele disse ainda que pretende conhecer pessoalmen­te o projeto, na próxima semana, para ver como foi custeado: “Muitos prefeitos hoje reclamam de falta de recurso, principalm­ente nas cidades de pequeno porte, por isso é interessan­te ver o apoio da sociedade”.

Policiais da cidade terão acesso às imagens em tempo real, diretament­e de um celular. As imagens conseguem gravar até mesmo quando não há nenhuma iluminação. Além disso, todas ficam gravadas.

Entre os moradores, o sistema de videomonit­oramento vem sendo apoiado. O recepcioni­sta Everaldo Rocha, 40 anos, é um dos que não cos- tumam trancar a porta de casa. Ele explica que, lá, não existe aquele medo de ‘cidade grande’. “A cidade é tranquila mesmo, por isso, a porta fica aberta. Ter as câmeras é bom, porque, se acontecer alguma coisa, vai dar para acompanhar”, diz ele, que nasceu em Mucugê, mas não sabia da novidade.

Já o auxiliar administra­tivo Cristiano Vieira, 40, conta que, há três semanas, houve um roubo de um carro na cidade. Um morador desceu para fazer compras no mercado e deixou a chave na ignição. Quando voltou, o veículo tinha sido levado. Segundo ele, essa é uma atitude comum entre os moradores. “Eu mesmo já fiz isso. Tem mais ou menos um ano que roubaram outro carro aqui, na praça, em uma situação parecida. Fiquei sabendo das câmeras pelo Facebook e acho que isso vai ajudar”.

Para o ano que vem, eles pretendem ampliar o projeto – e isso vai desde o aumento de número de câmeras, com o uso de equipament­os capazes de fazer leitura de placas de veículos e de fibra ótica, até a construção de uma sede física. Para isso, porém, esperam contar com apoio de associaçõe­s de produtores e até mesmo das gestões municipal, estadual e federal.

“Estamos vendo a parametriz­ação para integração com o centro do governo da Bahia, ainda nesta primeira fase. Já foi aberta a possibilid­ade para a Polícia Militar, então estamos fechando o convênio para eles acompanhar­em de Salvador, já nas próximas semanas”, afirmou o presidente do conselho de segurança, Tácio Matos Neto, referindo-se ao Centro de Operações e Inteligênc­ia de Segurança Pública 2 de Julho, inaugurado em 2016.

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