Correio da Bahia

MÚSICA, EMOÇÃO E RESISTÊNCI­A NA FONTE

- LAURA FERNANDES

Se alguém esteve alheio ao show que o ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters, fez ontem em Salvador bastava reparar no muro de camisas que se formou na Ladeira da Fonte. Estampas de álbuns como The Wall e The Dark Side do The Moon, clássicos do grupo de rock progressiv­o, anunciavam a presença do astro britânico na Arena Fonte Nova.

Em Salvador, 30 mil pessoas estiveram no espetáculo que já passou por São Paulo, Brasília e segue para Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. Teve gente que até arriscou uma aventura de mais de 12 horas de carro na estrada para não perder a passagem de Roger Waters pela capital baiana.

“A gente saiu de João Pessoa às 4h, passou em Recife para pegar um amigo, chegou em Salvador às 17h30 e foi direto para o estacionam­ento do estádio. Compramos o ingresso na hora! Gente, nunca fiz isso na vida”, gargalhou a dentista paraibana Isabel Wons, 30. “Mas faça, viu? É maravilhos­o”, completou sobre a aventura que embarcou com o marido, o administra­dor Maxwell Wons, 35, e o amigo, o professor pernambuca­no Angeles Vinicius, 33.

Eles eram alguns dos fãs que chegaram cedo para garantir um lugar bem perto do palco. “É um show épico, que todo mundo precisa ver, né?”, justificou Isabel. “A obra dele é política, mas vai além. É imperdível”, concordou Angeles. Maxwell também fez coro e ressaltou: “Claro que não podemos não falar de política, mas existem outras questões. Tanto Waters quanto o Pink Floyd tocam na preservaçã­o da vida, dos direitos humanos, do direito das pessoas. Falta isso hoje”, defendeu Maxwell.

Foi a criativida­de e a sensibilid­ade do cantor, baixista e compositor de boa parte das músicas do Pink Floyd que levou muita gente para o show histórico. Clássicos dos álbuns Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979) estavam no repertório ao lado de canções do mais recente trabalho solo de Roger Waters, Is This the Life We Really Want?, de 2017.

Homem de poucas palavras durante o show, Waters deixou que as projeções no telão falassem por ele. Suaves no início e cada vez mais incisivas com o passar do tempo, as imagens não só ilustravam suas músicas, como provocavam a plateia.

Entre as frases exibidas no telão, estavam “Trump é um porco”, em referência ao presidente dos Estados Unidos; “resistir à polícia militariza­da”; “resistir ao anti-semitismo” e “resistir aos crimes de guerra”.

Um dos pontos fortes do show foi quando as crianças e jovens do Projeto Axé entraram em ação, na música Another Brick in The Wall, e abriram seus macacões feito super-heróis para exibir camisas com a palavra “resistir”. Outro destaque foi quando Roger Waters denunciou o neofascism­o no mundo e citou políticos como Trump; Le Pen, na França; e Farage, no Reino Unido. Na lista,acrescento­u o Brasil, mas no lugar do nome do candidato Jair Bolsonaro (PSL), que apareceu em São Paulo, foi colocada uma tarja com a frase “ponto de vista censurado”.

Apesar do posicionam­ento crítico do artista, que provocou polêmica e até brigas na capital paulista, o público o aplaudiu, fazendo coro ao gritar “ele não”. Com o semblante surpreso, Waters agradeceu aos fãs com os punhos serrados no alto. “Suas crianças são incríveis, muito bonitas e talentosas. Vamos continuar com a resistênci­a”, vibrou, elogiando o Projeto Axé.

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Tecnologia é uma das marcas da apresentaç­ão de Waters

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