Eleito, Jair Bolsonaro volta às redes
O cenário foi diferente, mas não o modo. Às 19h36, menos de 20 minutos após ser declarado presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL) usou as redes sociais para falar pela primeira vez como eleito. A bandeira do Brasil, que costumava aparecer ao fundo nas transmissões da campanha, não foi exibida desta vez.
Na mesa, a Constituição de 1988 aparecia de um lado, junto com a biografia de Winston Churchil, um dosmais conservadores políticos britânicos, uma publicação religiosa e, ainda, o livro O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota, de Olavo de Carvalho, um dos ideólogos de Bolsonaro. Na mesa, ele estava acompanhado da esposa, Michelle, e da intérprete de Libras Ângela. Foi dessa mesma forma, pelas redes sociais, que Bolsonaro se comunicou com o eleitorado, uma vez que não compareceu aos debates do segundo turno, nem fez campanha nas ruas.
Durante pouco mais de sete minutos, o presidente eleito com 55,13% dos votos válidos adotou um primeiro tom voltado à militância, sobretudo aquela que o apoiou na campanha pelas redes.
“Fizemos uma campanha não diferente dos outros, mas como deveria ser feita. Afinal de contas, a nossa bandeira, o nosso slogan, eu fui buscar naquilo que muitos chamam de caixa de ferramentas para consertar o homem e a mulher: a Bíblia Sagrada. fomos em João, 8:32: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’”, disse.
Embora eleito para governar um Estado laico, o discurso religioso percorreu toda a fala de Jair Bolsonaro. A Deus, ele agradeceu pela vitória e também atribuiu a recuperação após o atentado a faca sofrido no dia 6 de setembro, em Juiz de Fora. Ao trabalho da equipe médica que o tratou chamou de ‘milagre’.
O primeiro discurso, ainda que em tom mais leve, atacou a esquerda e voltou a falar em valores da família. O capitão reformado do Exército também usou termos militares, como ‘exército’, ‘marcha’ e ‘missão’. “Não poderíamos mais ficar flertando com o socialismo, o comuismo, o populismo e com o extremismo da esquerda”, declarou.
Pouco depois da transmissão para as redes sociais, Bolsonaro leu um discurso em casa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Durou pouco mais de 10 minutos e, novamente, veio cheio de menções à religião. Ao seu lado estava a esposa Michelle, mas também policiais federais de sua segurança, deputados eleitos, como Alexandre Frota (PSL-SP) e Hélio Bolsonaro (PSL-RJ), além do coordenador de campanha, Magno Malta.
Foi com uma oração puxada por Malta, inclusive, que o discurso oficial, em rede nacional, começou. Quando começou a falar, Bolsonaro prometeu honrar a Constituição: “Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa, não de um partido. Não é a palavra vã de um homem. É um juramento a Deus. A verdade vai libertar este grande país”.
Diantes das tensões causadas pelas declarações em relação às minorias, Bolsonaro falou em liberdade de ir e vir, liberdade política, religiosa, de cores e de orientações. “Não existem brasileiros do Norte nem brasileiros do Sul. Somos todos uma só nação. Uma nação democrática”, completou.
Bolsonaro prometeu ainda “dar um passo atrás” e reduzir a estrutura e burocracia do governo, falou em descentralizar a destinação de recursos para estados e municípios e disse que trabalhará para “estimular os investimentos, o crescimento, e gerará mais empregos”. Disse, ainda, que quer ter menores déficits, dívidas descrescentes e juros mais baixos”.
Sobre a política internacional, disse que libertará o país “e o Itamaraty de relações comerciais com viés ideológico a que foram submetidos nos últimos anos”. Bolsonaro é crítico da aproximaão do Brasil com países da África e da América Latina. “Buscaremos relações bilaterais com países que possam agregar valor econômico e tecnológico aos produtos brasileiros. Recuperaremos o respeito nacional”, acrescentou.
Questionado sobre o Estado Democrático de Direito, mencionou Duque de Caxias. “Não sou Caxias, mas sigo o exemplo desse grande herói brasileiro. Vamos pacificar o Brasil e, sob a Constituição e as leis, vamos construir uma grande nação”, concluiu.