Petista é recebido com rosas e panelaço
Com camisa azul e calça jeans, ao lado da mulher, Ana Estela, vestida de lilás e branco, o candidato à Presidência da República pelo PT, Fernando Haddad, votou ontem, por volta das 10h, em São Paulo. Dessa vez, o vermelho, cor de seu partido, não apareceu. Na parte de fora do prédio da Brazilian Internacional School, em Indianópolis, eleitores ouviam a música Alerta, Desperta, ainda Cabe Sonhar e seguravam rosas e livros.
Haddad começou o dia com um café da amanhã com correligionários em um hotel no bairro Paraíso, na capital paulista. Ele agradeceu o apoio recebido nesta reta final da campanha. “A defesa das liberdades individuais e da democracia é um patrimônio do país que precisa ser preservado. Vamos lutar até o último minuto”, afirmou o petista.
Pouco depois de votar da Brazilian International School no bairro de Moema, Zona Sul de São Paulo, o candidato do PT, Fernando Haddad, deu rápida entrevista coletiva na qual disse que o que está em jogo no Brasil são as liberdades individuais, a democracia e a própria nação. “A nação está em risco, a democracia está em risco e as liberdades individuais estão em risco”, disse Haddad.
Na porta da escola, moradores dos prédios vizinhos gritavam o nome de Jair Bolsonaro (PSL) e batiam panelas enquanto apoiadores do petista carregavam rosas e sombrinhas coloridas e em coreografia cantavam “alerta, desperta, ainda cabe sonhar”, trecho do espetáculo Cantata para um Bastidor de Utopias, do grupo Cia do Tijolo, baseado na vida do poeta espanhol Federico Garcia Lorca, assassinado em 1936 por forças franquistas durante a Guerra Civil espanhola. A derrota de Fernando Haddad na disputa presidencial abriu uma crise no PT, que está à procura de uma nova identidade para enfrentar a próxima temporada. Após 13 anos e meio à frente do Palácio do Planalto e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso pela Lava Jato, o PT já anuncia uma “oposição sistemática” ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), mas a busca pela hegemonia da esquerda enfrenta reações de antigos aliados.
A cúpula petista vai agora jogar as fichas em sua bancada federal - a maior da Câmara, com 56 deputados eleitos para tentar barrar propostas do novo governo e construir outro projeto de poder, de olho na eleição de 2022. O tom dessa estratégia, porém, ainda é motivo de divergência entre os que pregam uma guinada à esquerda e os defensores de uma inflexão mais moderada.
A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, em mensagem pelo Twitter, ontem à noite, escreveu que é preciso “resistência” e “lutar mais”. A petista também denunciou a campanha de impedimentos, mentiras, caixa 2 e ataques de caráter antidemocrático do candidato vitorioso.
Nos bastidores, porém, as mágoas da campanha já aparecem e não são poucos
Visita a Lula Após perder a disputa presidencial para Jair Bolsonaro (PSL), o candidato derrotado Fernando Haddad (PT) deve visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão, em Curitiba, ainda nesta semana. A visita está prevista para ocorrer amanhã ou na quarta-feira. Hoje, Fernando Haddad deve passar o dia em casa, no Planalto Paulista, sem agenda pública, segundo sua assessoria de imprensa. Hoje, o ex-presidente Lula receberá a visita do deputado estadual eleito Emídio de Souza (PT-SP) e do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh.
Manuela d’Ávila A candidata à vice-Presidência da República na chapa de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila, comentou em sua conta no Twitter a derrota para Bolsonaro no segundo turno. Segundo ela, a população tem que “resistir e defender a democracia e liberdade”. “Perdemos, é justo que fiquemos tristes e preocupados, com a gente, com os nossos, com o Brasil. Mas a tristeza tem que se transformar rapidamente em resistência”, disse, completando: “Eles venceram, mas a luta vai continuar. Vamos permanecer juntos, resistir e defender a democracia e a liberdade”.
Sem conversa Após a derrota, o candidato Fernando Haddad (PT) não telefonou e, de acordo com aliados, não pretende conversar com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). “Não tem conversa com quem não é civilizado”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos integrantes da coordenação da campanha petista. “Ele foi um candidato extremamente agressivo com o Haddad”, justificou o deputado estadual eleito Emídio de
Souza, outro coordenador da campanha. Além disso, segundo aliados de Haddad, não há intenção de questionar a eleição de Bolsonaro na Justiça.
Sobral Mesmo com um Ciro Gomes (PDT) distante e sem ter declarado apoio a Fernando Haddad (PT) no segundo turno, o terceiro candidato mais votado nas eleições viu seu reduto eleitoral apoiar em massa o petista ontem, seguindo movimento já esperado da região Nordeste como um todo, que por sua vez é reduto eleitoral do PT. O Ceará, único estado onde Ciro havia sido o mais votado do país no primeiro turno, deu 71% dos votos válidos para Haddad. Em Sobral, reduto antigo da família Ferreira Gomes, Haddad recebeu 66% dos votos, puxando o resultado do interior.