Correio da Bahia

Um voto pela união familiar

- Fernanda Lima*

Quem nunca tentou mudar a pessoa amada que atire o primeiro título de eleitor. Aquele primo já se tornou, a seus olhos, uma pessoa repugnante pelas opiniões que expõe no grupo da família. Uma tia, sempre brigona, defende posições contrárias e não deixa de devolver as provocaçõe­s. As relações foram cortadas. Mas, agora que a eleição terminou, o que restará?

É chegada a hora da grande audiência de reconcilia­ção das famílias. Agrupem os pares, chamem os juízes de paz e iniciem o diálogo.

As brigas e discussões no grupo do zap já alcançaram todos os níveis: uns saíram, outros xingaram e a maioria está exausta. Se há vontade e possibilid­ade de reconectar os elos rompidos no período eleitoral, comece pelo principal conselho de psicólogos e terapeutas: pense quando falar e quando silenciar.

“Parece complexo, mas o essencial é fazer o exercício da palavra. É um hábito muito grande soltar o que vem na cabeça. E, se perceber que disse bobagem, não há problema em pedir desculpa. Perceber que é uma bobagem e dizer logo depois anula”, ensina a terapeuta Emília Queiroga.

Para quem acredita, também vale apostar na astrologia. Ontem (28), dia da eleição, foi um dia de Lua Vazia, como explicam astrólogos e numerólogo­s. O que quer dizer que estaremos numa espécie da passagem e todos os sentimento­s e sensações serão emanados para o universo.

O astrólogo e numerólogo Ricardo Newton comenta. “Nós iremos nos esvaziar de muitas emoções negativas e estaremos tentando nos ligar com as energias positivas. O que vem depois será resultado das emoções positivas".

O grande teste das emoções já está decidido: o temido Natal em família. Com todos eles juntos, em suas similarida­des e diferenças, é preciso colocar em prática outro exercício. Percebeu que não tem solução, o diálogo não flui e a intransigê­ncia já é o tempero da noite? Pare. “É importante se posicionar, porque se não abdicaremo­s de um direito, dando espaço à repressão. Mas, se o outro não quer ouvir, não há espaço para falar. Ali, provavelme­nte, não será momento de abrir a mente de ninguém”, acredita a psicóloga e terapeuta integral Joana Bina. Nenhuma família sairá ilesa do dia de resolver os conflitos. Uma das provas é a recente briga na família Gagliasso: a atriz Giovana Ewbanck criticou o irmão do marido, Bruno Gagliasso, Thiago, após ter ouvido do cunhado “que a televisão estaria morrendo”.

A suspeita de que a briga seria causada por política confirmou-se dias depois. Na quinta, Thiago escreveu para o candidato Jair Bolsonaro (PSL): “Arruma um bolsa irmão aí pra mim! Que deu ruim te apoiar!”. “Um grande abraço, Thiago”.

Entre Gagliassos e anônimos, o churrasco da reconcilia­ção - como já é chamado o dia de resolver os conflitos com a parentada em eventos criados no Facebook - pode depender de uma figura: os pacifistas. Toda família tem uma. “É fundamenta­l que se tenha essa figura, que tenha mais sabedoria em lidar com o conflito”, diz Joana.

Na família Argôlo, o código é evitar o conflito – quando possível. Num grupo de 15 pessoas no Whatsapp, todos tentaram levantar bandeira branca. Há, sim, diferenças políticas, mas os familiares insistem em calar quando está claro que a discussão não vale o esforço. A engenheira Fabíola Ârgolo já elaborou, então, uma síntese do que espera para o Natal.

A reunião acontecerá, como em todos os anos, em Alagoinhas. A matriarca, dona Adélia, é uma pessoa tranquila, evita perturbaçõ­es. E os filhos e netos devem ser influencia­dos também por isso. “Acho que, se alguém iniciar algum conflito que não vale a pena, os outros tentarão acalmar”, torce.

O pacifista terá, portanto, uma obrigação clara: se tornar o filtro das verdades absolutas numa possível discussão entre o grupo. E esse mediador, inclusive, pode formar um grupo de outros pacifistas ao redor de si.

Exemplos de memes que já circulam nas redes sociais prevendo o ‘day after’ da eleição, quando parentes e amigos vão tentar reatar relações familiares e de amizade

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